Cruzeiro do Sul, Acre, 14 de maio de 2025 00:27

A viagem do escritor cruzeirense Raimundo Carlos de Lima ao Alto Juruá – De Cruzeiro do Sul a Marechal Thaumaturgo e a cidade do Breu (Tipisca)-Peru

Sem título (36)

O propósito de Raimundo Carlos de Lima (Dindola)

Quando eu, Dindola, tinha por volta de 12 anos de idade, fui à então Vila Humaitá (à margem esquerda do rio Juruá, a montante de Cruzeiro do Sul), onde ainda residiam (com as respectivas famílias, nomes que lembro) irmãos de meu pai, Possidônio Rodrigues Lima (Vicente; Cecília); e de minha mãe, Raimunda Carlos de Lima (Sebastião, Raimundo, Thereza, Otília, Rita, Maria da Conceição). Após vários anos, veio-me a ideia de retornar àquela vila, que já tinha recebido a denominação de Vila Porto Walter, nome que recebera em homenagem a um antigo morador, Walter de Carvalho.  E a partir de 1992, com a elevação da Vila à categoria de Município de Porto Walter, ano em que eu completaria 40 anos de idade, intensificou-se o desejo de voltar a Porto Walter, e mais, ir além, mais acima no rio Juruá, até chegar pela primeira vez em Marechal Thaumaturgo (que também fica à margem esquerda do rio Juruá e tem à sua frente o afluente deste, o rio Amônea), que também fora elevada de Vila à categoria de município no mesmo ano de 1992. E, depois, ampliou-se o desejo de ir mais a montante, no mesmo rio Juruá, chegando à famosa Foz do rio Breu (afluente da margem direita do rio Juruá), onde está fixada (em seu meio) a fronteira Brasil-Peru e tem uma Vila (Comunidade Brasileira), com o marco divisório em terra firme, no alto barranco (lado direito do rio Breu), na vila brasileira.

Isso tudo já faria o meu propósito realizado. Mas quando eu elaborava o livro de História da cidade-sede do Alto Juruá (Cruzeiro do Sul-Acre), que veio a ser lançado em janeiro de 2016, eu soube, por informação da Senhora Rosa Alves da Silva, brasileira que morou no Peru e voltou a residir em Marechal Thaumaturgo, que havia, bem acima da fronteira, uma comunidade peruana, na localidade conhecida pelos brasileiros como Tipisca, que formava a comunidade peruana mais próxima do Brasil no Alto Juruá. Então, fazer uma viagem, subindo o rio Juruá até a Foz do Breu, com a intenção de chegar até Tipisca passou a ser um objetivo, sem data prevista para sua realização, mas jamais esquecido. Assim, ficou mantida a intenção de concretizar esse intento. E, após o lançamento do livro (que contém informações sobre a Foz do rio Amônea, a Foz do rio Breu e a famosa Batalha do Amônea), realizar essa viagem passou a ser um objetivo a ser alcançado assim que houvesse uma oportunidade em uma de minhas visitas anuais a Cruzeiro do Sul, que em regra ocorrem entre os meses de dezembro e janeiro de todos os anos.

A concretização da Viagem

Aproveitando o convite do jovem cruzeirense Matheus Chaves Barroso, que viaja todos os anos para Marechal Thaumaturgo (em regra por via aérea) e outras cidades próximas, realizando venda de produtos Ipiranga para os comércios locais, passei a programar a viagem para um momento possível, por via fluvial. E, finalmente, no dia 7 de janeiro de 2025 começou a se concretizar o sonho. A partida, do porto de Cruzeiro do Sul, minha terra natal, a maior cidade da Mesorregião do Vale do Juruá acreano e a segunda maior do Estado do Acre, com 98.382 habitantes (IBGE, estimativa 2024),  ocorreu numa lancha com 28 passageiros, incluindo pais com crianças. A lancha, com velocidade de 50 km/hora, dispunha de internet, permitindo a transmissão de mensagens e fotos instantaneamente para a família e alguns amigos interessados, como ocorreu de Cruzeiro do Sul até Marechal Thaumaturgo, esta com 17.951 habitantes (IBGE, estimativa 2024), cidade cuja área geográfica faz fronteira com o Peru, embora sua zona urbana fique a alguns quilômetros da comunidade peruana mais próxima (Cidade do Breu) conhecida no Alto Juruá apenas como TIPISCA, com acesso pelo glorioso rio Juruá, pelo qual é banhada e fica em sua margem esquerda. Adiante trataremos melhor dessa interessante localidade de nosso vizinho Peru.

O trajeto da viagem – pelo rio  Juruá – se fez com passagem pelas cidades de Rodrigues Alves (margem esquerda do rio Juruá), com 15.537 habitantes (IBGE, estimativa 2024), a mais próxima, sem parada; e pela segunda cidade, Porto Walter, com 11.275 habitantes (IBGE, estimativa 2024), fazendo-se a primeira parada, de cerca de 20 minutos, onde aportamos por volta das 10:50, com tempo para  lanche ou almoço e abastecimento, tudo isso sem se afastar da  margem do rio.

A parada final, para hospedagem, como já dito, foi em Marechal Thaumaturgo, cidade cujo nome homenageia o então Coronel engenheiro do Exército Brasileiro, Gregório Thaumaturgo de Azevedo, o fundador de Cruzeiro do Sul em 1904.

TRAJETO DA VIAGEM DO DINDOA AO ALTO JURUÁ

(Demonstração no Mapa, de jusante para montante: subindo o rio Juruá a partir de Cruzeiro do Sul)

Imagem-mapa:  Screenshot (GoogleEarth)-Acesso: Matheus Barroso

A SAÍDA DE CRUZEIRO DO SUL PARA MARECHAL THAUMATURGO

A partida se deu em 07.01.25, às 7:15. O rio Juruá não estava tão cheio. Estava com nível de meia água, o suficiente para  uma boa viagem:

 

Rodrigues Alves  –  a primeira cidade a montante de Cruzeiro do Sul

Essa cidade foi atingida rapidamente, em cerca de 25 minutos após saída de Cruzeiro do Sul.

Não houve parada da lancha na cidade. Seguimos direto para a cidade seguinte: Porto Walter.

  Porto Walter – a segunda cidade a montante de Cruzeiro do Sul

Chegamos em Porto Walter às 10:05. Como já mencionado, houve um tempo para lanche ou   almoço dos passageiros, na outra lancha onde aportamos, sem que os passageiros pudessem  se afastar da margem do rio Juruá.

CHEGADA A MARECHAL THAUMATURGO –  3ª e última cidade brasileira a montante de Cruzeiro do Sul – no Alto Juruá

 Chegamos à cidade-sede da viagem, por volta das 14:20 do mesmo dia 07.01.2025, para hospedagem, estadia   principal e conhecimento da cidade. Desta sairíamos, no dia 10.01.25, para conhecer, a montante no rio Juruá, a Foz do rio Breu, onde ficam a Comunidade brasileira e a fronteira Brasil-Peru. E de lá prosseguir até a Comunidade peruana mais próxima do Brasil no Alto Juruá: Ciudad de Breu (cidade do Breu), capital do Distrito de Yurua, conhecida pelos brasileiros das adjacências como TIPISCA.

 O Aeródromo (aeroporto) de Marechal Thaumaturgo

  Pelotão Especial de Fronteira Mal.Thaumaturgo (Exército Brasileiro, 61 BIS)

NOVA ETAPA DA VIAGEM – Subindo o rio Juruá a partir da Cidade de Marechal Thaumaturgo   

A finalidade principal de subir o rio Juruá a partir da Cidade de Marechal Thaumaturgo era chegar à famosa FOZ DO RIO BREU, afluente da margem direita do rio Juruá, onde está definida a Fronteira Brasil-Peru e tem a Comunidade Brasileira mais próxima do país vizinho, o Peru. E, a partir dali, chegarmos à Comunidade peruana mais próxima do Brasil no  Alto Juruá, na CIDADE DO BREU (Ciudad de Breu), capital do Distrito de Yurua, conhecida pelos brasileiros como Tipisca.

A viagem de ida desse trecho, embora passando por vários pontos importantes, tais como pequenas comunidades e, obviamente, comunidades maiores, teve apenas duas paradas programadas – na FOZ DO BREU, onde há a Comunidade Brasileira e o Marco da Fronteira Brasil-Peru – apenas para procedermos o abastecimento complementar de combustível; e, em seguida, ir mais adiante, na CIUDAD DE BREU (Cidade do Breu), denominada por muitos brasileiros de TIPISCA, para visita e conhecimento.

E, mesmo com essa parada necessária na Foz do rio Breu, deixamos para a volta (retorno) de Tipisca, os maiores contatos, a tiragem de  fotos e a  obtenção de maiores informações.

Rio Breu, a Comunidade Brasileira (Vila) e o Marco da Fronteira Brasil-Peru

Partindo da cidade de Marechal Thaumaturgo, por volta das 5:30 do dia 10.01.25,  saímos  da frente da maior escadaria da cidade, no rio Amônea, com o exímio e eficiente comandante e proprietário da lancha, o jovem senhor José Carlos, conhecido na Cidade de Marechal Thaumaturgo, por grande parte da população local apenas como Andrade.

   –  A Vila Foz do Breu (Comunidade Brasileira)

O local de chegada (1ª parada) foi na Vila Foz do Breu,  no ponto comercial (aquático) da foto abaixo (do Sr. Antônio), na margem esquerda do rio Juruá (à direita de quem sobe o rio) e do lado oposto de onde fica a parte maior construída da Vila Foz do Breu, que está na parte mais alta da vila, do lado direito da Foz do rio Breu, que o leitor vê  à sua direita.

Visita ao Distrito de Yurua (Juruá) – Peru

Saindo da Comunidade Foz do Breu, em uma pequena lancha, com capacidade para três pessoas (o piloto Andrade e dois passageiros, Matheus e Dindola), com velocidade de 40 km/hora, levamos em torno de 1(uma) hora e 15 minutos, rio acima, até a localidade chamada Tipisca. Eu ainda não sabia que estava indo para uma localidade no Distrito de Yurua, conhecida no Alto Juruá por todos com quem fizemos contato, apenas como TIPISCA. Também não encontramos pessoas que soubessem nos esclarecer o porquê desse cognome dado ao local. No dicionário da Língua Portuguesa consta o vocábulo “Tipisca” como: “Lagoa formada nas margens pelo transbordamento dos rios, durante a estação chuvosa; sacado.” (Dicionário Michaelis). Segundo outras fontes, é uma lagoa formada nas margens do rio Amazonas e de seus afluentes pelas cheias na época da estação chuvosa.

Durante a viagem, em contato com nosso Historiador Juruaense, Antonio Franciney, fiquei sabendo dessa conceituação acima. Segundo ele, essa denominação àquele local poderia ser um apelido dado pela comunidade à localidade e que tinha visto que pertencia à Província de Atalaya. Depois da viagem fiquei sabendo que Yurua é um dos quatro distritos da Província de Atalaya, que é uma das províncias da Região de Ucayali, esta uma das 25 Regiões do Peru.

(https://pt.wikipedia.org/wiki/Yurua_(distrito).

Esse distrito tem a comunidade peruana mais próxima da fronteira Brasil-Peru, fronteira esta definida, como já explicitado, no meio do rio Breu, afluente da margem direita do rio Juruá, onde há uma comunidade brasileira, também já citada. Após nosso retorno a Cruzeiro do Sul, pesquisando melhor, soube que Tipisca, onde estivemos, é a própria capital do Distrito de Yurua, cujo nome é Ciudad de Breu (Cidade do Breu):

“O distrito de Yurua está localizado no sudeste do departamento de Ucayali, na província de Atalaya. Foi criado pela Lei nº 9.815, de 2 de julho de 1943, a mesma lei que criou a província de Coronel Portillo. Sua capital é a cidade de Breu, também conhecida pelos vizinhos brasileiros como ‘Tipishca”. (https://es.wikipedia.org/wiki/Distrito_de_Yurua) – sem grifos no original.

Chegada em Ciudad de Breu  (Tipisca)

Chegamos em Tipisca às 10:18 do dia 10.01.25, como mencionado, após uma viagem de 1(uma) hora e 15 minutos, onde permanecemos por cerca de 1 (uma) hora. Subimos à área urbana e transitamos até uma grande e única praça central, onde há uma delegacia de polícia e a sede da Administração da cidade. No trajeto cumprimentamos as poucas pessoas que transitavam e fomos até a delegacia para nos apresentarmos à polícia. Não pudemos fazer perguntas porque o único policial que vimos estava atendendo a duas senhoras. Tiramos várias fotos, que mostram toda a principal área urbana da cidade.

O Retorno da Cidade do Breu (Tipisca) para a Foz do rio  Breu

Após a tão desejada visita a Tipisca, de cerca de 1 (uma) hora, retornamos por volta das 11:20 do mesmo dia 10.01.25 à Foz do rio Breu para, com maior tempo ver bem de perto (para mim muito importantes) a famosa Foz do Breu, a Comunidade Brasileira, o Marco da Fronteira Brasil-Peru  e algumas pessoas, se possível.

Ainda na Cidade de Marechal Thaumaturgo, antes de iniciarmos a viagem, mais de uma pessoa nos disseram que chegando à Comunidade de Foz do Breu procurássemos a pessoa mais conhecida de lá, cujo cognome é  ZÉ IDA. E assim que chegamos de volta de Tipisca e aportamos na margem direita, ao lado da Foz do Breu, subimos uma grande escadaria em frente à parte alta e principal da Vila e perguntamos onde ficava a casa de Zé Ida. Nos informaram qual era a casa e para lá fomos. E fomos muito bem recebidos pelo Senhor Zé Ida, que nos convidou para entrar em sua casa e nos ofereceu água, suco, arroz, farofa e  forneceu utensílios necessários para que esquentássemos uma conserva que completaria a refeição dos três viajantes (Andrade, Matheus e Dindola).

Após chegar de volta a Cruzeiro do Sul, conversei com meu irmão Antônio Carlos – que residiu cerca de 25 anos na Comunidade Caipora, que fica acima da Cidade de Marechal Thaumaturgo, alí trabalhando com nosso tio Raimundo Lopes e ambos prestando serviços aos Correios de Cruzeiro do Sul no Alto Juruá e ao mesmo tempo regateando. E ele me disse que teria ido até  a Foz do Breu várias vezes e uma vez a Tipisca, e que conheceu, na Comunidade Foz do Breu o famoso ZÉ IDA; que ele era filho da Senhora Ernestina Rodrigues da Silva,  então proprietária do seringal naquela localidade. Infelizmente, perdi a oportunidade de pedir ao Zé Ida para com ele tirar foto! Ele ainda está bem disposto. Apesar de ter familiares na Cidade de Marechal Thaumaturgo, mora sozinho na Comunidade de Foz do Breu (que é uma Vila do município de Marechal Thaumaturgo), onde recebe e hospeda muita gente em sua casa, inclusive policiais em operações especiais.

Chegada de Volta à Foz do Breu e sua Comunidade

Retornando da Cidade do Breu (Tipisca), no Distrito de Yurua, para o Brasil, chegamos à Foz do Breu/Comunidade Brasileira às 12:16.

Então, como explicitado, na Foz do Breu, onde ficam a Comunidade Brasileira e o Marco da Fronteira Brasil-Peru, fizemos a parada maior após  o retorno da Ciudad de Breu (Tipisca), Distrito de Yuruá, nosso destino final da viagem ao Alto Juruá.

 –  O Marco da Fronteira Brasil-Peru

A definição da fronteira Brasil-Peru é no meio do rio Breu, mas o marco de identificação, visto na foto, por questões óbvias (não pode ficar no meio do rio navegável), foi instalado, pelo 61 BIS, do Exército Brasileiro, em terra firme, na Vila Foz do Breu, margem direita do rio Breu.

 

–  A Foz do rio Breu

Retorno da Foz do Breu para a Cidade de Marechal Thaumaturgo

Voltando da Foz do Breu para a Cidade de Mal. Thaumaturgo, apreciamos melhor as belezas do  rio Juruá e de suas margens. Passamos por alguns de seus afluentes e pequenas Comunidades. Dentre elas:

Comunidade Pintada – logo abaixo da Foz do rio Breu, na margem esquerda do rio Juruá (sem fotos).

rio Caipora, afluente da margem direita do rio Juruá e Comunidade Caipora à margem esquerda do Juruá, onde tiramos fotos da foz do rio Caipora e da Comunidade.–  rio São João do Breu, afluente da margem direita do rio Juruá e à margem esquerda a Comunidade São João do Breu, onde foi possível tirar fotos da foz do rio e da Comunidade

Comunidade Acuriá, próxima do rio Acuriá

–  Comunidade Jardim da Palma – na margem esquerda do Juruá, abaixo da Comunidade São João e acima da Foz do rio Tejo

rio Tejo, afluente da margem direita do rio Juruá e Comunidade na margem esquerda. 

Por fim, após passarmos de volta pelo famoso rio Tejo, ultrapassando também o Igarapé Arara e a Comunidade Arara, chegamos à Cidade de Marechal Thaumaturgo, por volta das 16:40, aportando no também famoso Rio Amônea, na mesma escadaria onde havíamos embarcado para a tão sonhada viagem à FOZ DO BREU  e  a  TIPISCA.