Cruzeiro do Sul, Acre, 4 de outubro de 2024 00:05

Alunos de várias escolas de Cruzeiro do Sul visitam o Memorial e se sensibilizam com a história e a obra de João Mariano

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No dia 02 de abril de 2022, foi inaugurado, em Cruzeiro do Sul, no Copacabana Shopping, o Memorial João Mariano da Silva, em homenagem ao egrégio jornalista, pai de família dedicado, professor, poeta e rábula. No dia seguinte à inauguração do Memorial, quando se completaram 50 anos do falecimento de João Mariano, foi celebrada, na Catedral de Nossa Senhora da Glória, às 19h30min, e com ampla divulgação pelos meios de comunicação, solene eucaristia “in memoriam” desse nordestino “teimoso” que aqui resolveu casar-se, constituir família e trabalhar diuturnamente pelo desenvolvimento econômico, moral, intelectual, social e cívico de seus contemporâneos.

Um acervo com documentos, jornais antigos, equipamentos de impressão, armário de tipos, poesia e réplica da parte frontal de sua antiga tipografia foi preservado e organizado pela família Mariano e estão expostos nas dependências do shopping supracitado. Esse importante acervo suscitou o interesse da UFAC – Universidade Federal do Acre – em desenvolver um programa de extensão universitária com o seguinte título “Direitos Humanos e a Busca pela Efetivação da Cultura Acreana”. Esse programa está sendo tocado por acadêmicos do curso de Direito e tem sido fundamental para a socialização e expansão do legado material e imaterial de João Mariano. O jornalista dominava a arte de escrever e de falar. Seus textos informativos e formativos bem elaborados e contextualizados revelam um ser humano ético, religioso, inteligente, criativo e solidário com as boas causas sociais.

Desde o dia 21 de junho do ano corrente, alunos representando várias escolas de Cruzeiro do Sul estão visitando o Memorial e sensibilizando-se com a história e a obra de João Mariano. São muitas as perguntas que surgem durante as visitas: “O que levou o jornalista a mudar-se do Ceará para o Acre? Quantos filhos ele teve e quantos estão vivos? Por que ele se tornou jornalista? Existe alguma ligação entre o Juruá Online e o jornal O Juruá fundado por João Mariano? De que ele morreu? Por que ele trabalhava com dois jornais? Quais eram os assuntos que o jornalista abordava nos jornais?”

Foram muitas as perguntas e nenhuma ficou sem resposta. O material jornalístico preparado pela família Mariano é de altíssima qualidade: os jornais antigos foram minuciosamente restaurados, digitalizados e copiados, os equipamentos de impressão foram parcialmente revitalizados em oficina especializada, o armário de tipos, semelhante aos usados por João Mariano, foi um presente da Pontifícia Universidade do Rio Grande do Sul e passou por uma restauração.

Professora Gisalda Mariano, filha de João Mariano, culta permanentemente a memória do pai

Além do vislumbre com o bom estado do material da exposição, o público visitante fica encantado com os conteúdos dos jornais que versam sobre o cotidiano das pessoas a partir de 1921 até 1971: o tipo de alimentação baseada no extrativismo vegetal e animal, o livre consumo de animais silvestres, o comércio de couros; as roupas utilizadas pela população em geral; as escolas existentes, o analfabetismo vigente; os problemas sanitários, as doenças na cidade e nos seringais, vilas, colônias; os remédios utilizados para prisão de ventre, sífilis, dores de cabeça, malária, tosse, as vitaminas, os depurativos, os purgantes…; as peculiaridades da escrita da época; a construção do primeiro hospital, a instalação do hospital dermatológico, a construção de cabanas para os hansenianos; a história da Santa Casa de Misericórdia, suas diretorias; os acidentes geográficos da região; a história do Território Federal do Acre e de nosso município, os personagens que ajudaram a compilar essa história; as casas comerciais mais populares e seus respectivos proprietários, as barbearias, as padarias, os armazéns, os seringalistas da época; as intrigas políticas; os animais soltos que comiam as lavouras e sujavam com esterco as vielas da cidade; a história dos religiosos, padres, bispos, igrejas, pastores; a navegação nos rios da Amazônia e do município; a construção do primeiro aeroporto (Aeroporto Velho), a chegada dos primeiros hidroaviões, o Correio Aéreo Nacional (CAN), os voos da FAB, a chegada da empresa de transporte aéreo Cruzeiro do Sul; a insustentabilidade dos preços da borracha no mercado internacional, a concorrência dos produtores asiáticos e a derrocada dos seringais nativos da Amazônia; a chegada do 7º BEC.

Há que se concluir que seu João Mariano deixou, propositadamente, um legado para as gerações vindouras. Sua preocupação com a educação dos munícipes, a veracidade de suas informações, a cronologia dos acontecimentos e a imparcialidade das críticas revelam o homem visionário, moderado, cristão, pai dedicado, sábio, culto, amigo dos menos favorecidos, seja em termos materiais, seja em termos intelectuais. Sua obstinação por uma educação de melhor qualidade levou-o a sugerir às autoridades locais e estaduais a construção de internatos nas comunidades e vilas remotas a fim de evitar que o homem rural precisasse se deslocar até a cidade em busca de melhores condições de estudo para a sua prole. Dessa forma, o produtor rural, principalmente, não abandonaria sua lavoura, o que era essencial para a segurança alimentar da população.

Irmão João Gutemberg, neto de João Mariano e um dos principais articuladores da restauração do acervo de da implantação do Memorial

Para João Mariano, um povo sem educação era um povo sem futuro. Em um de seus jornais, ele relata a discrepância entre os alunos matriculados nas escolas da cidade e os alunos frequentes: os alunos faltosos eram em torno de 40%. Conclama os pais a enviar seus filhos à escola, sob pena de não se resolver os altos índices de analfabetismo e a situação de subdesenvolvimento regional. Lamentava que profissionais das diversas áreas, nascidos no Juruá, estivessem atuando em outros estados/municípios por conta da precariedade de investimentos em áreas essenciais que deveriam ser priorizadas pelo poder público na região. Ele usou a palavra escrita e a palavra falada para defender justiça social, educação de qualidade e respeito aos direitos humanos. Seu João fez a diferença.

Secretário do Acervo João Mariano, Professor Nilo Castro Correia (na inauguração)
Fachada da Tipografia foi relembrada na exposição do Memorial
                                 João Mariano vive – Quadro do artista plástica cruzeirense Osvaldo Dilson Magalhães