Cruzeiro do Sul, Acre, 8 de dezembro de 2024 20:22

Após notificação do MP, Comando suspende programa que mostrava ações policiais no Acre

Após notificação do MP, comando da Polícia Militar do AC manda suspender programa que mostrava ações policiais — Foto: Reprodução/YouTube

Programa Polícia 190 era transmitido em canal do YouTube com 230 mil inscritos. Corregedoria da PM abriu sindicância para apurar conduta de policiais em vídeos e exposição de abordados

Rio Branco – Após receber uma notificação do Ministério Público para que fosse aberto um procedimento investigatório, o comando da Polícia Militar do Acre (PM-AC) suspendeu o programa “Polícia 190”, que mostrava as ações policiais no estado, como abordagens e outros atendimentos de ocorrências.

O programa começou em dezembro de 2019 após liberação por parte do ex-comandante da PM, coronel Ulysses de Araújo e era transmitido em um canal no YouTube com 230 mil inscritos e mais de 23 milhões de visualizações.

Desde o início, o programa causou bastante polêmica por expor as pessoas que eram abordadas em diversas situações, mesmo que sem mostrar a identificação delas. O canal também já chegou a mostrar o trabalho do Serviço de Atendimento Móvel de Urgência (Samu) e de médicos nos hospitais do Acre.

Assim que assumiu o comando da PM, após Araújo entregar o cargo no início de julho, o coronel Paulo Cesar Gomes da Silva já sinalizou que iria suspender o programa, segundo informações da assessoria do órgão. A informação é que o novo gestor queria um novo formato para a programação.

“Quando o comandante assumiu, ele já pediu para fazer essa readequação e, posteriormente, a nossa Corregedoria recebeu um documento do Ministério Público pedindo que esclarecesse algumas situações. A intenção do novo comandante não é acabar com o programa, de fato houve a suspensão das gravações, mas para que a gente analise e avalie a melhor forma de dar continuidade”, disse a major Martha Renata, da assessoria da PM.

A polícia informou que não era feito nenhum pagamento por parte do estado para a realização do programa e que ele ocorria de forma voluntária, somente com a autorização de gravação.

Corregedoria da PM-AC abriu sindicância para apurar conduta durante a abordagem e também a exposição das pessoas — Foto: Amanda Borges/G1

Abertura de sindicância

O corregedor da PM-AC, coronel Ezequiel Bino, disse que há cerca de 20 dias o Ministério Público enviou uma requisição para instauração de procedimento apuratório com relação à conduta dos policiais que apareciam nas cenas do programa e também sobre a exposição das pessoas abordadas.

“O Ministério Público requisitou à Corregedoria para que apurássemos a legalidade do programa, haja vista que em determinadas cenas se vislumbra um abuso de autoridade, já que as pessoas abordadas estão sendo filmadas e as filmagens estão indo a público, o que não é permitido por lei. Então, foi requisitada abertura de sindicância, nós abrimos e está em andamento”, disse o corregedor.

Ao final da apuração, as documentações e conclusões devem ser encaminhadas ao MP-AC para tomada de medidas cabíveis. O G1 aguarda resposta do Ministério Público a respeito da notificação e se houve abertura de ação por parte do órgão.

“Durante as cenas, além de alguns áudios, o MP identificou que os policiais se dirigem às pessoas abordadas de modo inadequado e também pela divulgação das pessoas. Ou seja, o que está sendo apurado é a conduta durante a abordagem e também a exposição”, explicou Bino.

O prazo para conclusão da apuração é de 30 dias e pode ser prorrogado por igual período. O corregedor disse que não era possível ainda dizer quantos policiais são alvos de investigação.

‘Perseguição’, diz dono de programa

O publicitário e jornalista Eduardo Haddad, idealizador do programa Polícia 190, disse que a suspensão não passa de perseguição por parte de alguns jornalistas que tentam sabotar seu trabalho.

“Na verdade, muitos atrapalham o trabalho de quem quer trabalhar, a perseguição é muito grande por parte de alguns repórteres da imprensa e isso não é de hoje. Vem desde a época que eu fazia o acompanhamento do trabalho do Samu, depois Bombeiros e também dos médicos. É um trabalho voluntário, sem ônus nenhum para o Estado o para o órgão”, disse o publicitário.

Haddad afirmou ainda que o canal não vai acabar e que já recebeu contato de outros estados com intenção de dar continuidade ao projeto. Ele também disse que a suspensão do programa acaba sendo um incentivo à criminalidade.

“De forma alguma o canal vai acabar, infelizmente não temos mais autorização para fazer aqui no Acre, mas estamos no aguardo de Rondônia e Mato Grosso. Estou triste, mas a gente tem que cumprir ordens. O que posso dizer é que o Polícia 190 contribuiu muito para a sociedade acreana, para o Brasil e para o mundo”, concluiu.

A suspensão do programa causou polêmica nas redes sociais. Muitos internautas criticaram e falaram que foi uma forma de censura e politicagem.