Segundo Marina Hirata, impactos do fogo não se restringem a uma única região, afetando tanto o Brasil quanto outros lugares ao redor do mundo
Um estudo revela que perdemos 1/3 das áreas naturais desde a colonização européia e, só nos últimos 39 anos, mais de 23% do território nacional foi atingido pelas queimadas. No episódio desta semana do “Brasil Sustentável”, da TV 247, entrevistamos a cientista e professora Marina Hirata, que possui formação acadêmica multidisciplinar com doutorado em meteorologia pelo INPE (Instituto Nacional de Pesquisas Espaciais), e mestrado e graduação pela Unicamp (Universidade Estadual de Campinas).
As mudanças na cobertura nativa, especialmente no Brasil, têm um impacto significativo nas emissões de carbono. Segundo a pesquisadora, atualmente existem planos de recuperação e restauração que estão em andamento. “A Mata Atlântica, por exemplo, está muito mais avançada em termos de técnicas e formas de restaurar. No entanto, é muito difícil ganhar escala em restauração. As vastas áreas queimadas e alteradas dificultam a recuperação, que podem levar muito mais tempo e não alcançar a mesma biodiversidade do original”, explica Marina.
A situação é ainda mais complicada por conta dos impactos diretos das queimadas e da poluição. “Estamos vendo agora o quanto as queimadas estão influenciando e como teremos que nos adaptar a isso. Essa adaptação está ligada à integração de políticas públicas e ao conhecimento científico necessário para atingir essa escala. O desafio é significativo, principalmente em relação aos compromissos do governo brasileiro para mitigar os efeitos das mudanças climáticas e melhorar a qualidade de vida da população”, disse.
Segundo Marina, a remoção de um único elemento da natureza pode provocar um efeito em cascata, afetando diversos outros componentes do ecossistema. “Isso significa que, ao retirar uma espécie ou recurso, ocorrem consequências negativas que podem levar a perdas significativas. Os impactos não se restringem a uma única região, mas reverberam globalmente, afetando tanto o Brasil quanto outros lugares ao redor do mundo”, avaliou.
Para a pesquisadora, a perda da biodiversidade é uma das fronteiras planetárias mais comprometidas. A atividade humana está deixando uma pegada ecológica irreversível, impactando diversos seres vivos. Isso se relaciona diretamente com o consumo e as práticas adotadas atualmente, evidenciando como as ações do homem estão afetando o equilíbrio do ecossistema global.
“Estou aqui em Florianópolis e, por exemplo, as florestas tropicais situadas nas altas montanhas são as mais vulneráveis. As matas de araucárias, na região subtropical do Brasil, precisam de determinadas sazonalidades, incluindo períodos de frio. Se as temperaturas nessas áreas aumentarem significativamente, observamos que essas matas não conseguem mais se sustentar. Os animais que habitam essas florestas serão altamente impactados e correm o risco de extinção.”
Ela reforça o papel de cada cidadão e faz um convite para repensarmos nossos padrões de consumo. “Esquecemos do nosso papel de formiguinhas e que, juntos, podemos fazer a diferença em tudo que está acontecendo. É importante questionar quem são nossos modelos e quem seguimos. Muitas vezes, admiramos países com altos níveis de consumismo, acreditando que é bom comprar e ter sempre mais, mesmo quando não precisamos”, criticou.
Veja a entrevista na íntegra aqui: