Cruzeiro do Sul, Acre, 11 de setembro de 2024 12:44

Artigo – Efeitos climáticos, o fantasma que ronda a humanidade

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Os últimos oito anos – de 2015 a 2022 – foram os mais quentes já registrados, de acordo com o relatório da Organização Meteorológica Mundial (OMM), divulgado recentemente e recebido com apreensão por todos que se preocupam com o futuro do planeta. Os números mostram o aumento das temperaturas globais, apesar de três anos consecutivos de resfriamento do padrão climático La Niña.

O aumento do nível do mar, provocado pelo derretimento de geleiras, e o aquecimento dos oceanos, atingiram números recordes. A concentração dos principais gases de efeito estufa alcançou a sua pior marca e tudo aponta na direção do recrudescimento das mudanças climáticas nos próximos anos, caso atitudes drásticas não sejam colocadas em prática, em todo o mundo.

Como disse o secretário-geral da Organização das Nações Unidas (ONU), Antonoio Guteress, em comunicado sobre o assunto, as ferramentas, o conhecimento e as soluções para enfrentar o cenário assombroso que se desenha já existem e estão postos. Mas é preciso acelerar o ritmo e, nesse quesito, estamos perdendo terreno, com passadas sempre mais curtas, muito aquém do que precisa ser feito.

Nesse compasso, a tendência é de que ocorram, cada vez com mais frequência, eventos climáticos extremos, ocasionando impactos socioambientais profundos, especialmente sobre os países mais desassistidos. Estamos falando da intensificação dos períodos de secas e inundações e do crescimento das ondas de calor, afetando a produção alimentar e as vidas em todo o mundo, mas com consequências ainda mais severas aos que se encontram abaixo ou na linha da pobreza.

Ecossistemas inteiros podem ser destruídos e o relatório mostra que tudo caminha nessa direção. As mudanças climáticas já estão afetando, por exemplo, ações que ocorrem normalmente na natureza, como o período de florescimento das árvores ou de migração dos pássaros.

O relatório mostra que a temperatura global está em 1,15°C, acima da média de 1850-1900. A ONU considera que, para manter em 1,5 °C até 2100, índice considerado suportável já que a previsão é de que excederá 2 °C, é preciso haver cortes de emissões de gases de efeito estufa. Isso implicará em decisões e medidas de grande monta, principalmente dos países mais desenvolvidos, de onde provém a maior parte do problema, e investimentos em sistemas de monitoramento e de alerta para mitigar os impactos.

Além disso, o órgão alerta para a necessidade de ajuda significativa para que as cidades mais pobres e vulneráveis possam enfrentar os efeitos dos eventos climáticos extremos, que provocam, dentre outros, a insegurança alimentar e o aumento da desnutrição, questões que se aprofundam ainda mais com os conflitos prolongados, como a Guerra entre Rússia e Ucrânia, por exemplo.

De acordo com o levantamento, os eventos climáticos extremos já provocaram deslocamento populacional e pioraram as condições de vida de 95 milhões de pessoas. Também cita que 8 milhões deixaram suas casas em decorrência das enchentes, com dados até outubro de 2022. Os danos totais e perdas econômicas chegam a US$ 30 bilhões.

Além dos efeitos citados, sabemos que as mudanças climáticas causam escassez de água doce no planeta, a extinção de espécies e colocam em risco as cidades costeiras, com o derretimento das geleiras e aumento do nível do mar. Grandes quantidades de chuvas ocasionarão mais deslizamentos de terra e o aumento das enchentes. A seca poderá provocar falta de água em regiões onde já há escassez e o aumento da ocorrência de incêndios e perda da biodiversidade. A saúde também é uma das áreas afetadas, a partir da proliferação de doenças transmitidas por mosquitos, como dengue e malária, assim como pelos efeitos causados pela desnutrição e fome.

O futuro parece sombrio, mas o entendimento global é de há saídas, sim, desde que os países se unam para, juntos, adotarem as medidas necessárias para frear essa escalada, diminuindo a emissão de gases de efeito estufa e dando suporte e apoio às populações mais vulneráveis.

Nesse sentido, temos a situação da população amazônica, onde os efeitos das mudanças climáticas também são sentidos, com cheias recordes e chuvas cada vez mais intensas. Reduzir o desmatamento na região é uma questão urgente a ser enfrentada, principalmente pelo seu papel na regulação do clima global.

O governador do Amazonas, Wilson Lima, tem atuado nesse campo, não somente na formulação de políticas públicas no Estado, mas também na captação de parceiros internacionais. Um desses parceiros é a Alemanha, a partir da reativação do Fundo da Amazônia, criado para financiar projetos de redução do desmatamento e fiscalização do bioma.

Nesses primeiros dias do segundo mandato do governador, o Amazonas já captou cerca de R$ 75,8 milhões, recursos provenientes de cooperações internacionais junto ao Banco Interamericano de Desenvolvimento (BID) e ao Banco de Desenvolvimento Alemão KFW, além do Fundo Amazônia, via Banco Nacional de Desenvolvimento Econômico e Social (BNDES).

Um dos projetos que começará a ser executado no Amazonas, pela Secretaria de Meio Ambiente, é o de “Bioeconomia e REDD+: Engajando o setor público e privado para o desenvolvimento econômico e social, em bases sustentáveis e de baixas emissões”. Para a iniciativa, o Estado contará com 13 milhões de euros do Fundo Floresta, que integra o programa de Florestas Tropicais do KFW, com financiamento do Ministério Federal de Cooperação Econômica e Desenvolvimento (BMZ) da Alemanha.

São parcerias que se fortalecem e que começam a trilhar o caminho proposto pela ONU, quando clama aos países mais ricos que não percam de vista os mais vulneráveis, porque um depende do outro nessa caminhada pelo futuro do planeta.

* Marcellus Campêlo é engenheiro civil, especialista em saneamento básico; exerce, atualmente, o cargo de coordenador executivo da Unidade Gestora de Projetos Especiais (UGPE) do Governo do Amazonas.