Indicados de Lula e o próprio presidente do BC, Roberto Campos Neto, votam por corte mais agressivo; taxa básica estava estacionada em 13,75% ao ano havia 12 meses
BRASÍLIA – Apontado pela equipe econômica e pelo Planalto como o “grande vilão” da economia neste ano devido à manutenção dos juros altos, o Comitê de Política Monetária (Copom) do Banco Central decidiu finalmente iniciar o processo de redução da taxa Selic, com um corte mais agressivo, de 0,50 ponto porcentual, de 13,75% para 13,25% ao ano.
O movimento, tão aguardado pelo governo – que hoje intensificou a pressão pela queda de juros –, por empresários e, mais recentemente pelo mercado financeiro, ocorreu em uma decisão dividida, como já era esperado, na estreia de Gabriel Galípolo e Ailton Aquino no comitê. A decisão do Copom não era dividida desde setembro do ano passado.
“Emissários” de Luiz Inácio Lula da Silva, os novos diretores do BC votaram por uma queda de juros mais significativa, de 0,50 ponto porcentual, juntamente com o próprio presidente do BC, Roberto Campos Neto, Carolina de Assis Barros e Otávio Ribeiro Damaso. Votaram pelo corte em 0,25 ponto os diretores Diogo Abry Guillen, Fernanda Magalhães Rumenos Guardado, Maurício Costa de Moura e Renato Dias de Brito Gomes.
A redução ocorre exatamente 12 meses depois de o BC elevar a taxa Selic pela última vez para combater uma inflação até então bastante persistente. Desde então, os juros básicos estavam parados em 13,75% ao ano. De lá para cá, a inflação acumulada em 12 meses cedeu de 10,07% para 3,16% – abaixo do centro da meta deste ano (3,25%).
O início do ciclo de afrouxamento monetário ainda acontece três anos após o último corte de juros no Brasil. Também em agosto de 2020, a autoridade monetária definiu a queda para Selic a 2,0%, mínima histórica, no contexto da pandemia de covid-19.
A trajetória da taxa de juros
Selic cai após um ano estacionada em 13,75% ao ano
Em porcentagem ao ano

Ao justificar a decisão de hoje, o BC entendeu que ela “é compatível com a estratégia de convergência da inflação para o redor da meta ao longo do horizonte relevante, que inclui o ano de 2024 e, em grau menor, o de 2025. Sem prejuízo de seu objetivo fundamental de assegurar a estabilidade de preços, essa decisão também implica suavização das flutuações do nível de atividade econômica e fomento do pleno emprego”.
“O Copom avaliou a alternativa de reduzir a taxa básica de juros para 13,50%, mas considerou ser apropriado adotar ritmo de queda de 0,50 ponto percentual nesta reunião em função da melhora do quadro inflacionário, reforçando, no entanto, o firme objetivo de manter uma política monetária contracionista para a reancoragem das expectativas e a convergência da inflação para a meta no horizonte relevante”, diz o comunicado.
O comitê sinalizou que pretende continuar o processo de corte da taxa Selic nos próximos meses, iniciado hoje, com o mesmo ritmo de 0,50 ponto porcentual. “Em se confirmando o cenário esperado, os membros do Comitê, unanimemente, anteveem redução de mesma magnitude nas próximas reuniões e avaliam que esse é o ritmo apropriado para manter a política monetária contracionista necessária para o processo desinflacionário”, disse o Copom no comunicado.

O colegiado ainda deixou em aberto o número total de cortes do ciclo de afrouxamento. “O Comitê ressalta ainda que a magnitude total do ciclo de flexibilização ao longo do tempo dependerá da evolução da dinâmica inflacionária, em especial dos componentes mais sensíveis à política monetária e à atividade econômica, das expectativas de inflação, em particular as de maior prazo, de suas projeções de inflação, do hiato do produto e do balanço de riscos.”
O Copom retirou as ameaças fiscais do balanço de riscos para a inflação na reunião de hoje. Na reunião passada, em junho, o comitê afirmou que ainda havia um risco “residual” em relação ao desenho final do novo arcabouço fiscal.
Além do movimento, que deve ser bem-visto pelo governo, o BC também atualizou outras variáveis do balanço de riscos. Entre os riscos de alta, o colegiado manteve uma maior persistência das pressões inflacionárias globais e acrescentou uma maior resiliência na inflação de serviços do que a projetada .
Nas contas do BC, o juro neutro, que não acelera nem alivia a inflação, é de 4,5%. A taxa real brasileira está bem acima de México (6,64%) e Colômbia (6,15%), que vêm logo na sequência na lista. A média das 40 economias é de 0,84%.
Inflação
As projeções oficiais do BC para a inflação também caíram, conforme o comunicado. No cenário de referência, que utiliza câmbio variando conforme a Paridade do Poder de Compra (PPC) e juros do Relatório de Mercado Focus, o BC alterou a projeção do IPCA de 2023 de 5,0% para 4,9%. Para 2024, foi mantida a projeção de 3,4%. Já para 2025, foi de 3,1% para 3,0%.
No cenário de referência, a autarquia ainda atualizou no Copom as projeções para os preços administrados. Em 2023, a estimativa passou de 9,0% para 9,4%. Já em 2024, manteve-se em 4,6%. A projeção para 2025 passou de 3,4% para 3,5%.
Nesse cenário, o BC considera ainda que o preço do petróleo deve seguir aproximadamente a curva futura pelos próximos seis meses e passar a aumentar 2% ao ano na sequência. Também adota a hipótese de bandeira tarifária “verde” em dezembro de 2023, 2024 e de 2025.