PARTE II: “A soberba precede a ruína, e a altivez do espírito, a queda” – provérbios 16:18.
A Rússia nunca engoliu as perdas territoriais e tecnológicas da Era Soviética, após 1991, sobretudo, a principal das repúblicas que integravam a “União”, a Ucrânia. Esta, considerada o celeiro da Europa, sempre esteve aliada à Putin, com governos pró-Moscou. Mas, tudo virou de cabeça para baixo, com a chegada ao poder de uma figura exótica, Volodyyr Zelensky, um sujeito de estatura baixa e ex-comediante, que fazia sucesso nos programas de TV de Kiev, nos anos 2000. Após escalonar as ameaças, no dia 21 de fevereiro de 2022, ocorreu a invasão da Ucrânia, a tal “operação especial”. Putin esperava uma guerra rápida e cirúrgica, em razão da grande superioridade de suas Forças Armadas, reconhecidamente com um poderio invejável em número de soldados, tanques, artilharia, força aérea e marinha, sem mencionar o seu temível poder nuclear, que rivaliza como “top um”, junto aos Estados Unidos.
Poucos dias após o início do conflito, fui entrevistado pelo jornalista Alexandre Gomes, na imprensa local, sobre a nossa visão sobre a guerra. Há oito meses, cravei que esperava um conflito longo, de resistência ucraniana, principalmente pela iniciativa da OTAN em enviar armamentos de defesa modernos e até de ataque, o que faria conter as pretensões de Moscou. Citei exemplos de guerras extensas travadas no século XX e que ficaram estagnadas pelos mesmos motivos, como no Vietnã e no Afeganistão. A maioria dos analistas acreditavam em um conflito resolvido em um ou dois meses. O que assistimos atualmente?
Após um start arrasador, a Rússia degringolou, começou a diminuir o ímpeto de seus ataques e, passados sete meses de conflito se viu meramente em uma posição defensiva. Inimaginável em fevereiro ou março. O que aconteceu com a máquina de guerra russa? Soberba? A resposta é sim. Mas, para além da soberba, que naturalmente precede a queda, vários fatores contribuíram para uma possível derrota vexatória que hoje se avizinha: táticas militares questionáveis, artilharia e tanques defasados, força aérea pouco efetiva e marinha estagnada. Não conseguem manter o seu domínio sobre as regiões que conquistaram e anexaram ilegalmente, como Kherson, Zaporizhzhia, Donetsk e Luhansk. Assim, aumentaram as ameaças de ataque nuclear, mobilizaram mais de 300 mil homens recentemente e, no mês de novembro, surpreendentemente, estão contando com o Ocidente para uma saída menos vergonhosa. Isso mesmo, os russos estão contando com a solidariedade de seus inimigos, como os Estados Unidos e Reino Unido, para forçarem o “baixinho” Zelensky, que Putin menosprezou, a negociar a paz e diminuir o impacto de uma derrota ainda mais vexatória que as das guerras com o Japão (1904 / 1905) e Afeganistão (1979 / 1989). A mentalidade dos comandantes russos ainda está na década de 1970 e eles pensam como se ainda estivéssemos na Guerra Fria e a Rússia fosse a União Soviética. Estão defasados e ultrapassados.
O conflito ainda se prolongará por alguns meses, nesta que já é a maior guerra que a Europa vivencia, desde o fim da Segunda Guerra Mundial. Uma carnificina que já pode ter mais de 200 mil soldados mortos nos campos de batalha (estimativa do General americano Mark Milley). O que nos causa mais apreensão? É o risco de um ataque nuclear desesperado da Rússia, ainda soberba e com o seu velho orgulho ferido. Só nos resta esperar e torcer pela paz.
*Narcélio Generoso é Técnico do TJAC, escritor, conselheiro de turismo e colaborador do Jornal Voz do Norte