A estratégia lançada pelo governo Lula para orientar a eliminação gradual dos combustíveis fósseis ganhou corpo na COP30. Ministros de Alemanha, Colômbia, Reino Unido, Quênia e Serra Leoa lançaram um chamado público por um “mutirão” global para que a conferência aprove, ainda em Belém, um mapa do caminho para a eliminação gradual dos combustíveis fósseis e implementar a decisão tomada na COP28. No entanto, há alguns países ainda relutantes em aceitar a ideia, disse o presidente da conferência, André Corrêa do Lago.
O que aconteceu?
Países pressionam por transição fóssil mais rápida. A iniciativa, defendida desde o início pelo Brasil, vinha sendo tratada como uma “opção” no texto preliminar. Agora o jogo virou. Carsten Schneider, ministro do Meio Ambiente da Alemanha, pediu formalmente que a presidência da COP30 inclua o chamado no texto final. “Nesse espírito de mutirão, vamos aprender com as experiências uns dos outros e implementar conjuntamente a transição”, afirmou, destacando o apoio de países europeus. A ministra colombiana Irene Vélez Torres reforçou o tom: “A urgência da crise climática não permite atrasos. Cada uma das partes aqui presentes precisa se comprometer.”
Segundo ela, a declaração já havia recebido 16 adesões nas primeiras 24 horas.
O movimento marca uma mudança no tom da cúpula realizada em Belém. Até dias atrás, não havia clareza sequer sobre a tentativa de produzir um acordo amplo para encerrar a conferência. O Brasil propôs então um processo em duas etapas: um pacote intermediário amanhã — incluindo temas considerados espinhosos demais para entrar na agenda formal — e a conclusão dos pontos restantes até sexta.
Questionado se haveria espaço para mais ambição no texto, Corrêa do Lago disse que ele reflete algo que abre a porta para o assunto e está entre os pontos extremos: favoráveis e contrários. De acordo com o embaixador, é normal que os favoráveis esperem um texto mais incisivo, mas, quando se negocia, é preciso equilibrar o tom para não fechar as portas.
A presença do secretário-geral da ONU, António Guterres, que se reunirá amanhã com o presidente Luiz Inácio Lula da Silva, reforçou o peso político das discussões. Lula tem defendido que a COP30 saia de Belém com um plano concreto para “fortalecer a governança climática” e transformar a decisão de Dubai, que consagrou a transição energética, em ações verificáveis.
“A presença do presidente Lula vai sempre ajudar”, disse o embaixador quando questionado se a visita ajudaria nas negociações. De acordo com Corrêa do Lago, o presidente tem agendas relacionadas à COP e agendas paralelas na cidade. Os compromissos de Lula ainda não foram confirmados pelo Planalto.
Países desenvolvidos devem agir mais e mais rápido, diz Marina Silva. Pela manhã, a ministra do Meio Ambiente e Mudança do Clima discursou no segmento de alto nível da COP, reforçando o pedido do presidente para que Belém entregue resoluções concretas tanto sobre fósseis quanto sobre o fim do desmatamento. Ela ressaltou a necessidade de planejamento, financiamento e cooperação internacional. “Precisamos reduzir a alta dependência desses combustíveis e, ao mesmo tempo, avançar em Mapas do Caminho para o Fim do Desmatamento, com pleno respeito aos povos indígenas e comunidades locais”, disse.
Entre os pontos mais sensíveis da COP ainda em disputa está o financiamento para que países pobres acelerem sua saída dos fósseis — tema que trava negociações há anos. Mesmo assim, a presidência brasileira acredita ter apoio suficiente para “um resultado sem demora”, nas palavras do embaixador André Corrêa do Lago.
COP30 pode dar primeiro salto rumo à transição justa global. Se confirmada, a adoção do roteiro proposto pelo Brasil representará a primeira tentativa de organizar globalmente a implementação da transição energética, definindo caminhos para que países reduzam a dependência dos combustíveis fósseis de forma “justa, ordenada e equitativa”. Para governos e ativistas, trata-se do passo que faltava para transformar compromissos políticos em política climática real.
O que disseram
A campeã de juventude da COP30, Marcele Oliveira, saudou o movimento, mas cobrou ambição: “Precisamos de mais pessoas. Precisamos de todos, e de uma COP da implementação.” O secretário-executivo do Observatório do Clima, Marcio Astrini, avaliou que o anúncio mostra que Lula “não está mais sozinho” na defesa de um roteiro global. “Com seu discurso, Lula inspirou os países, que ouviram e agora oferecem apoio ao presidente brasileiro”, disse.