Cruzeiro do Sul, Acre, 11 de novembro de 2024 01:28

Deslizamento de terra em porto de Manacapuru foi causado por aterros inadequados, aponta relatório da equipe do Serviço Geológico do Brasil

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Segundo a análise do SGB-CPRM, durante a cheia a saturação do solo se intensificou, comprometendo a estabilidade da área. Relatório será divulgado para o público na quinta-feira

Após três semanas do deslizamento de terra que aconteceu no dia 7 de outubro próximo ao Porto de Terra Preta, em Manacapuru, resultando na morte de duas pessoas e na interdição do Terminal Hidroviário da cidade, a equipe do Serviço Geológico do Brasil (SGB-CPRM) divulgou o relatório de avaliação técnica após o desastre.

A equipe reportagem de A CRÍTICA teve acesso ao relatório na íntegra que foi elaborado pelos pesquisadores em Geociências Antonio Gilmar Honorato de Souza, Marco Antonio Oliveira e Renê Luzardo, além do técnico em hidrologia Jose Carlos da Matta Silva, entre os dias 8 e 10 de outubro.

O relatório será apresentado oficialmente nesta quinta-feira (31), durante coletiva de imprensa do SGB, para apresentar análises sobre a seca extrema na região amazônica em 2024. O evento acontecerá na Superintendência Regional de Manaus (SUREG-MA), às 14h (horário local), com a participação da diretora de Hidrologia e Gestão Territorial do SGB, Alice Castilho.

O que diz o relatório

Vista aérea do porto da Terra Preta mostrando a área afetada antes do evento e em período de cheia. Observa- se o muro de contenção do pátio parcialmente submerso, em julho de 2024 (Foto: Divulgação)

Vista aérea do porto da Terra Preta mostrando a área afetada antes do evento e em período de cheia. Observa- se o muro de contenção do pátio parcialmente submerso, em julho de 2024 (Foto: Divulgação)

A análise revela que a área afetada pelo deslizamento abrangia aproximadamente 15.000 m², com profundidade de até 20 metros, mobilizando cerca de 300 mil m³ de material. O estudo identificou que a saturação do solo e a rápida descida do nível das águas, que variou cerca de 15,60 metros, foram fatores críticos para a ruptura.

“Os inúmeros eventos de ‘terras caídas’ que ocorrem ao longo do ano nas margens dos rios amazônicos fornecem importantes informações sobre a instabilidade desses terrenos. A fragilidade do solo, combinada à sobrecarga local, foi um fator determinante para o desencadeamento de um movimento de massa de grande magnitude”, afirmaram os pesquisadores.

Torção na rampa de acesso ao terminal flutuante (Foto: Divulgação)

Torção na rampa de acesso ao terminal flutuante (Foto: Divulgação)

Os fatores que contribuíram para o deslizamento, de acordo com os pesquisadores, foram a localização do terreno na margem erosiva do rio Solimões, a presença de minas d’água na base do talude e aterros inadequados que sobrecarregaram o solo. A análise evidenciou que, durante a cheia, a saturação do solo se intensificou, comprometendo sua estabilidade.

“Outro fator significativo para o deslizamento do barranco foi a rápida descida do nível das águas, que variou cerca de 15,60 metros, da cota máxima de 17,68 metros na cheia, registrada em 17/06/24, para a cota mínima de 2,08 metros na vazante, observada em 12/10/24, uma amplitude superior à média de 10 metros comumente observada no rio Solimões. Durante o período de cheia, a saturação do terreno, composto por aterro e sedimentos, possivelmente gerou sobrecarga sobre os solos das margens do rio, que, na vazante, não conseguiram suportar o peso adicional, deflagrando o processo de instabilidade”, destacou o relatório.

Medidas protetivas

Diante dos resultados, os especialistas sugerem a realização de estudos hidrológicos e geotécnicos mais detalhados na região para identificar com precisão os fatores desencadeantes dos deslizamentos e auxiliar na formulação de medidas preventivas.

O monitoramento das áreas de risco e a vistoria das fundações do terminal hidroviário também foram destacados como essenciais para garantir a segurança das instalações.

“Esses estudos podem auxiliar no desenvolvimento de medidas preventivas e de engenharia adequadas, além de proporcionar um melhor entendimento das condições locais de instabilidade e dos processos de movimentação de massa ao longo das margens dos rios amazônicos”, reforçou a equipe.

Riscos no terminal hidroviário

Trincas no piso do estacionamento do terminal hidroviário (Foto: Divulgação)

Trincas no piso do estacionamento do terminal hidroviário (Foto: Divulgação)

Além disso, os pesquisadores observaram durante a pesquisa indícios de que o Terminal Hidroviário de Manacapuru precisa de vistorias especializadas, pois há “trincas no chão” e “degraus abatidos” próximo à instalações.

“Recomenda-se que as instalações do Terminal Hidroviário e terminal de embarque flutuante, sejam vistoriadas e analisadas por uma equipe de engenheiros especializados para averiguar se as fundações do terminal são adequadas para a situação atual. Pois indicadores de risco como trincas no chão e degraus de abatimento foram observados no entorno das instalações edificadas”.

O SGB ressalta também a importância da implementação de projetos adequados para a ocupação das margens dos rios, evitando aterros inadequados e garantindo fundações seguras.

“Recomendamos também que se evite a utilização de aterros (exceto aqueles que empregam técnicas e materiais adequados) nas áreas de várzea dos grandes rios da Amazônia e que se utilizem estacas profundas que atinjam a rocha, pois esta técnica além de tradicional evita escavações, aterros e propicia o ‘travejamento’ ou apoio de base, mesmo sobre solos instáveis”, ressaltou o SGB-CPRM.

O relatório conclui destacando que é necessário que sejam tomadas ações imediatas para proteger vidas e infraestrutura na região amazônica, como monitoramento de áreas de alto risco, principalmente nos períodos de secas extremas.

“Deve haver monitoramento das áreas mapeadas de risco alto a muito alto para processos de movimentos de massa e evitar a permanência de embarcações e casas flutuantes nessas áreas durante períodos de secas extremas, como ocorreu em 2010, 2023 e 2024”, finalizou o estudo.