Cruzeiro do Sul, Acre, 1 de maio de 2025 06:32

Em 2021, Brasil tem 2 milhões de novos pobres com fim do auxílio emergencial

ABRE/Divulgação
Durante o pagamento do benefício, a taxa de extrema pobreza caiu de 3% para 1%
Fonte: undefined - iG @ https://ultimosegundo.ig.com.br/brasil/2021-02-06/em-2021-brasil-tem-2-milhoes-de-novos-pobres-
ABRE/Divulgação
Durante o pagamento do benefício, a taxa de extrema pobreza caiu de 3% para 1%

Marcado pela pandemia do novo coronavírus, 2020 chegou ao fim nesta quinta-feira (31). Junto com o ano, termina também o auxílio emergencial , programa que foi a principal ou única renda de cerca de 68 milhões de brasileiros em boa parte do ano. Com os depósitos finalizados, 2021 terá apenas os saques finais do auxílio, previstos para terminar em 27 de janeiro .

Pago aos trabalhadores mais afetados pela crise, especialmente informais e desempregados sem direito ao seguro-desemprego, o auxílio emergencial foi o motor da economia em 2020 e, além disso, escancarou os “invisíveis” do Brasil real, milhões de brasileiros excluídos do mercado de trabalho e que, com o fim do programa de transferência de renda, estão à própria sorte. Uma parte do universo de beneficiários retorna ao Bolsa Família, que deverá atender cerca de 19 milhões no próximo ano.

Nos últimos meses, a  tendência do mercado de trabalho é desanimadora. Após o corte do valor do auxílio, que passou de R$ 600 para R$ 300 e ganhou regras mais duras , que excluíram milhões de pessoas dos pagamentos finais, e com os menores níveis de isolamento social , mais pessoas voltaram a procurar emprego. Em outubro, de acordo com dados do Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE), o desemprego passou a atingir 14,1 milhões de brasileiros , com os índices de informalidade disparando e chegando a 38,8% da população ocupada, um recorde.

Para 2021, o cenário não é animador. Embora o governo celebre a alta dos empregos com carteira assinada , o fim do auxílio emergencial e o protagonismo cada vez maior da informalidade ligam alerta. Sem ajuda do Estado com o corte dos R$ 300 que antes eram R$ 600, o desemprego deve subir ainda mais. Sem auxílio, mais pessoas buscarão emprego, naturalmente.

Dependência do auxílio

De acordo com o Ministério da Cidadania, os programas de transferência de renda conseguiram, em 2020, conter a  extrema pobreza  em 80%. Atualmente, cerca de 2,1% da população vive nessa situação, mas sem os auxílios criados durante a crise, especialmente o ‘coronavoucher’, 12,4% da população estaria na extrema pobreza.

Segundo a pesquisa PNAD Covid-19, do IBGE, o auxílio emergencial esteve presente em cerca de 40% das residências brasileiras, sendo que, em julho, esse número atingiu o pico de 44,1% dos lares no país.

Nas regiões Norte e Nordeste , o auxílio chegou a mais da metade das casas. Em maio, 54,8% dos lares nordestinos recebiam, e, em agosto, na região Norte a marca atingiu 61%. Também no mês de agosto, o valor médio do auxílio emergencial atingiu seu ponto alto: R$ 916 por residência beneficiada.

“Serão dezenas de milhares de pessoas jogadas na miséria [com o fim do auxílio emergencial]”, alerta Sergio Takemoto, presidente da Federação Nacional das Associações do Pessoal da Caixa Econômica Federal (Fenae). Ele complementa ainda que “quem mais sofre e continuará padecendo com esta crise sem precedentes é a população mais vulnerável”.

De acordo com pesquisa Datafolha , o auxílio era, em dezembro, a  única renda de 36% dos entrevistados que receberam alguma parcela do benefício em 2020. Em agosto, esse percentual era maior, de 44%.

Segundo o levantamento, 75% das famílias disseram que a redução do valor do auxílio de R$ 600 para R$ 300 provocou o recuo nas compras de alimentos . 55% precisaram deixar de pagar as contas de casa. Com o fim do auxílio, a tendência, de acordo com o Datafolha, é que o endividamento aumente e a  alimentação piore.

Desorganização, filas e lentidão marcaram os pagamentos do auxílio

fila caixa auxílio
Gabriel de Paiva/Agência O Globo

Filas em agências da Caixa foram vistas em diversos estados brasileiros

Se o benefício foi a salvação de muitas famílias em 2020, para muitos ele também foi dor de cabeça. A dificuldade em organizar as agências para receber os milhões de beneficiários fizeram muitos enfrentarem filas, aglomerações e, em alguns casos, passarem até  15 horas esperando para ter o dinheiro.

O aplicativo Caixa TEM , pelo qual os beneficiários do auxílio emergencial e os trabalhadores com contas do Fundo de Garantia do Tempo de Serviço ( FGTS ) movimentam os recursos, também tiraram o sono de muita gente. A lentidão do sistema , que chegou a cair em mais de uma oportunidade , preocupou beneficiários, e muitos chegaram a precisar tentar acessar o aplicativo de madrugada, quando menos pessoas estariam usando e sobrecarregando a base de dados. Precisar do dinheiro e não conseguir usar foi rotina para muitos, o que também colaborou para as aglomerações nas agências da Caixa pelo Brasil. Sem acesso ao aplicativo, muitos recorreram a ajuda dos bancários, que, nesses casos, pouco ou nada puderam fazer. Virtualmente, as filas também marcaram presença.