Portadora de Surdez, Mônica da Silva, dá seu recado:
Neste dia 24 de abril celebra-se o Dia Nacional da Língua Brasileira de Sinais (Libras), meio de comunicação utilizado pelas comunidades surdas no País. De acordo com o Censo de 2010 do Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE), mais de 9,7 milhões de pessoas no Brasil apresentam algum grau de deficiência auditiva.
Formado por gestos, sinais e expressões, o sistema possui natureza visual-motora, com estrutura gramatical própria. No Brasil, a data comemorativa foi instituída, principalmente, como uma maneira de destacar as dificuldades em acessibilidade enfrentadas por esses cidadãos, que encontram obstáculos desde a socialização até o mercado de trabalho.
Neste dia comemorativo da comunidade surda conversamos com duas especialistas de Libras que tem larga experiência no assunto e desenvolvem em suas instituições um belo trabalho de inclusão social que abrange além dos surdos, seus familiares e a sociedade em geral que também precisa aprender a se comunicar pela língua de sinais.

Ana Paula de Paula, é tradutora e intérprete de Libras que atua no Campus Floresta, da Universidade Federal do Acre (UFAC), trabalha com surdos desde 2011 e avalia ter um pouquinho de experiência, mas enfatiza que a cada dia continua estudando na busca de se aperfeiçoar e cada vez mais aprofundar seu conhecimento no assunto.
“Estou aqui para falar para vocês sobre a Lei 10.436 de 24 de abril de 2002 que é muito importante à comunidade surda por ser o dia que foi sancionado o reconhecimento da Língua Brasileira de Sinais (Libras) como meio legal de comunicação e expressão da comunidade surda e marca grandes lutas deles ao longo dos anos”, destaca.
Segundo Ana Paula, ao estudar e pesquisar a história dos surdos no mundo e no Brasil, ao longo dos anos, vai se constatar que sempre teve segregação, exclusão, humilhação e preconceitos apenas porque a pessoa não escuta, mesmo ela tendo uma forma de se comunicar com o uso das mãos e da visão. A língua de sinais é uma forma de se comunicar.
A tradutora e intérprete de Libras da UFAC destaca que a Língua Brasileira de Sinais é uma forma de comunicação e expressão em que o sistema linguístico é visual-motor que utiliza a visão e as mãos para se comunicar e foi reconhecida como língua porque tem uma estrutura gramatical própria e sistema linguístico de transmissão de ideias e fatos próprios dos surdos.
A intérprete ressalta ainda que na escola, na hora de escrever, o surdo tem que fazer em português, mas esse é um momento de lembrar das lutas de pessoas surdas que foram submetidas a processos absurdos que foram obrigados a aprender a falar, que se for ler dá vontade de chorar, além da proibição de usar as mãos para fazer os gestos para se comunicar.
“Os surdos foram excluídos da sociedade e das famílias e se for pesquisar este contexto de lutas da comunidade surda o 24 de abril é muito importante”, finaliza.

A Pedagoga e Especialista em Libras, Fátima Silva, que começou trabalhar como intérprete em escolas há 10 anos, hoje trabalha no Núcleo de Apoio Pedagógico à Inclusão (NAPI) Said Almeida Filho e no Centro de Formação para Profissionais da Educação e Atendimento às Pessoas com Surdez (CAS) como formadora e aplicando cursos, comemora os 19 anos da criação da lei.
“Hoje, 24 de abril, comemoramos 19 anos que foi criada a Lei da Libras, dia em que foi reconhecida como língua e para os surdos, suas famílias, profissionais e todos os que convivem com eles. A Libras representa um entendimento do mundo, a força, acessibilidade, igualdade, luta pelo respeito, interação e a evolução da comunicação na realidade”, avalia.
A especialista relata que as conquistas para os surdos e as pessoas que convivem com eles foram maravilhosas e houve uma evolução muito grande porque eles podem se comunicar com o mundo pela língua deles, podem usá-la como sua primeira língua e não precisam ser obrigados a falar o português, mas a língua deles e isso não tem preço.
“Falando dos nossos surdos, porque já temos muita intimidade com eles e conhecemos todos porque Cruzeiro do Sul é uma cidade pequena, as conquistas foram muitas. Desde 2006 iniciou o trabalho do ensino da Libras por pessoas muito importantes que fazem parte dessa trajetória e trabalharam no NAPI que antes era o Centro da Educação Especial”, lembra.
A professora destaca que o NAPI tem um trabalho muito importante de formação de intérpretes e profissionais para trabalhar com os surdos e que Cruzeiro do Sul tem surdos formados em Pedagogia e fazendo Pós-Graduação pelo Campus Floresta, da Universidade Federal do Acre (UFAC) numa conquista maravilhosa dos surdos e quem com eles convivem.
“Minha trajetória, como a dos outros colegas que trabalham junto comigo, já faz parte da história dos surdos da nossa cidade. No NAPI, Antes da pandemia, aplicávamos cursos para as pessoas da comunidade, ouvintes e surdos, para auxiliar nesta interação, comunicação e acessibilidade ao surdo”, destaca ao informar que os cursos paralisaram com a pandemia.
Mesmo com a paralisação neste tempo da pandemia os cursos o trabalho continua com de forma on lime com vídeos postados nas redes sociais para que os surdos não sintam que a língua deles está parada e para que até outras pessoas, através dos vídeos, possam também aprender a se comunicar através da Libras.
“Se Deus quiser essa pandemia vai passar e vamos voltar e continuar nosso trabalho de ajuda à comunidade surda. Parabéns a todos da comunidade surda e por essa conquista e a todos que fazem esse trabalho de inclusão social e podemos usar esse dia também para chamar um pouco a atenção da sociedade para a necessidade de mais apoio a causa dos surdos”, disse.
Segundo Fátima Silva em muitos locais da nossa cidade os surdos ainda não têm a acessibilidade necessária e uma pessoa que possa se comunicar com eles, por exemplo, num supermercado ou órgão público onde não conseguem sequer serem entendidos e passam uma imagem de pessoa ignorante. “Mas, é um direito, e isso ainda falta da nossa cidade”, afirma.