Cruzeiro do Sul, Acre, 2 de setembro de 2025 15:33

EUA deportam 2ª fugitiva do 8 de Janeiro que foi presa por imigração ilegal

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Os Estados Unidos deportaram nesta quarta-feira (27) a segunda brasileira fugitiva condenada pelos ataques do 8 de Janeiro. Ela estava presa no país após entrar como imigrante ilegal um dia após a posse de Donald Trump.

O que aconteceu

Rosana Maciel Gomes, 52, chegou a Belo Horizonte em um avião com dezenas de brasileiros deportados. A família da autônoma confirmou ao UOL que ela estava nesse voo. Rosana foi condenada a 14 anos de prisão por golpe de Estado, associação criminosa, dano a patrimônio público, dano a patrimônio tombado e abolição violenta do Estado democrático de Direito. Ela nega todos os crimes. Em 10 de agosto, o avião em que ela estava deixou de decolar, e a deportação foi adiada duas vezes.

A Polícia Federal efetuou a prisão de Rosana, que tem mandado de prisão aberto desde que fugiu do Brasil, em janeiro de 2024. Rosana e mais três brasileiras —Cristiane da Silva, Raquel de Souza Lopes e Michelly Paiva— foram detidas na fronteira do México com o Texas, em janeiro de 2025. Era a terceira fuga dela desde que saiu o Brasil, em janeiro de 2024, para ir a Uruguai, Argentina, Colômbia, México e EUA.

Rosana conversou com o UOL de dentro da penitenciária da Polícia de Imigração e Alfândega (ICE) dos EUA, em abril. Ela disse que as condições eram precárias e que os agentes norte-americanos omitiram socorro a ela quando passou mal na detenção.

Eles não me deram socorro. Fiquei três dias passando mal com problema de pulmão. Quase morri. Aqui a gente come até comida vencida. É complicado isso aqui. Rosana Maciel, em conversa com o UOL, em abril

“Eles não respondem nada aqui”, disse ela. “É uma perseguição. Eles não aceitam a gente falar nada. Me omitiram socorro nesta semana. Eles não me deram socorros. Tem pessoas que estão presas aqui há dois anos, que moram nos EUA e não entram.

A condenação de Rosana é definitiva. No processo, o advogado Hélio Ortiz Júnior disse que não havia provas contra ela. Rosana ainda negou ter participado de golpe ou depredado patrimônio: “Quando entrou no Palácio do Planalto, [Rosana] viu que os bens públicos estavam danificados e não danificou qualquer bem, tanto que ficou em estado de choque de ver uma situação daquela”, disse a defesa.

Até agora, Rosana e Cristiane foram embarcadas em voos de volta. Em 7 de abril, a ICE confirmou à Interpol, ao Ministério da Justiça e à Polícia Federal que as quatro brasileiras estavam detidas no Texas e que o órgão estava pronto para deportá-las ao Brasil. “Se o ERO [órgão da ICE responsável por deportações] receber uma ordem final de remoção para o Brasil para a pessoa nomeada, nós a removeremos no primeiro voo fretado disponível”, informou a polícia norte-americana, em documento obtido pelo UOL.

Em maio, o STF (Supremo Tribunal Federal) autorizou que as autoridades brasileiras pedissem à Interpol para incluir o nome de Rosana na difusão vermelha. No mesmo mês, a PGR (Procuradoria-Geral da República) havia pedido ao Supremo, “com urgência, todas as providências necessárias à efetivação da extradição de Rosana Maciel Gomes”.

Périplo de mais de 10 mil km. Desde o início de 2024, Rosana faz um périplo de mais de 10 mil quilômetros em fuga. Ela quebrou sua tornozeleira, saiu de Goiânia, chegou ao Uruguai, depois à Argentina, Peru, Colômbia, México e nos EUA, onde foi detida por imigração ilegal.

Fugitiva falou em milagre e usou bandeira dos EUA. Em janeiro, quando estava em fuga pelo México e prestes a ser presa nos Estados Unidos, Rosana fez duas publicações nas redes sociais. O texto é acompanhado de uma bandeira dos EUA: “Não fique preso ao passado”, disse ela. “Você está agora, diante de uma nova experiência. Dedique-se a ela de corpo e alma, e verá surgir o próximo degrau de evolução.”

Rosana foi presa em 21 de janeiro por imigração ilegal em El Paso, no Texas, na fronteira com o México. Em junho, ele foi transferida para unidade da ICE no estado da Louisiana, a 1.000 quilômetros de distância, aguardando embarque em um avião de deportados no aeroporto de Alexandria. Depois, em agosto, quando a primeira tentativa de deportação foi abortada, ela foi levada a Raymondville, no Texas, onde ficou até o último final de semana. Foi levada de volta à unidade do ICE perto do aeroporto de Alexandria, em Lousiania. De lá, embarcou para o Brasil.

Grupo fugiu da Argentina e se espalhou pelas Américas

Assim como Rosana, desde 2024, dezenas de condenados e investigados pelos ataques de 8 de janeiro de 2023 fugiram do Brasil para a Argentina. Mais de 180 pediram refúgio ao governo vizinho, alegando perseguição política. Mas, quando a Argentina passou a prender pessoas com ordem de extradição, em novembro de 2024, um grupo de cerca de 30 pessoas fugiu do país. Entre eles, estão:

Alethea Verusca Soares. Local: México. Condenada a 17 anos de prisão no Brasil por golpe de Estado e outros crimes. O UOL apurou que ela vive no México. Ao contrário de Cristiane, Rosana, Michely e Raquel, ela decidiu não cruzar a fronteira com os EUA por causa da possibilidade de prisão por imigração ilegal. Já fugiu para o Uruguai, Argentina, Peru e Colômbia.

Romário Garcia Rodrigues. Local: México. Condenado a 2 anos e cinco meses de prisão por incitação ao crime e associação criminosa. A defesa pediu ao ministro Alexandre de Moraes para cancelar o mandado de prisão preventiva para ele poder retornar ao Brasil e cumprir sua pena, ordenada para ser um regime semiaberto, numa colônia penal. O pedido foi negado.

Antônio Alves Pinheiro Júnior. Local: América Central. Antônio Júnior é réu em ação penal dos ataques. Fugiu da Argentina, mas tomou rota para a Bolívia. De lá, rumou para o Peru. Teria chegado à Colômbia em dezembro de 2024. De lá, segundo a reportagem apurou, chegou à América Central.

Edilaine da Silva Santos. Local: América Central. Edilene é ré em ação criminal dos ataques. Fugiu da Argentina para o Chile, seguiu para o Peru e teria chegado à Colômbia em dezembro. Também chegou à América Central.

Raquel de Souza Lopes. Local: Raymondville, Texas, EUA. Está presa numa detenção da Polícia de Imigração e Alfândega (ICE). A polícia informou à reportagem que estava em processo de deportação acelerada. O tribunal de imigração dos EUA negou seu pedido de asilo alegando perseguição política. Ela recorreu da decisão em 15 de julho.

Michely Paiva. Local: El Paso, Texas, EUA. Está presa numa detenção da ICE. A polícia informou ao UOL que estava em processo de deportação acelerada. Duas fontes asseguraram à reportagem, porém, que ela conseguiu uma possibilidade de asilo e pode ser liberada para viver no país a partir dos próximos meses assim que sair da detenção da ICE.

O grupo que deixou a Argentina em novembro de 2024 teria cerca de 30 pessoas, segundo a reportagem apurou. Ao menos uma pessoa está foragida no Chile. Outras teriam fugido para El Salvador e Guatemala.