Cruzeiro do Sul, Acre, 7 de outubro de 2024 21:53

Gestão Bolsonaro incinerou R$ 214,2 milhões em medicamentos do Sistema Único de Saúde

Marcos Corrêa/PR
Bolsonaro chorando

Os dados sobre estoques da Saúde estavam sob sigilo desde 2018 e foram liberados apenas após recomendação da Controladoria-Geral da União (CGU)

O governo de Jair Bolsonaro (PL) incinerou, desde 2019, diversos medicamentos utilizados no tratamento de doenças raras e de alto custo, como vacinas e remédios para pessoas com câncer e HIV.

A informação foi divulgada hoje pelo jornal Folha de S. Paulo e revela que, excluindo as vacinas contra a Covid-19, ao todo foram descartados medicamentos avaliados em R$ 214, 2 milhões , desde 2019.

A lista inclui remédios para diversas doenças, como hepatite C e outras, além de testes e medicamentos destinados a pessoas com HIV .

Entre os medicamentos para doenças raras, foram descartadas ainda 949 unidades do Translarna , produto usado para pacientes com distrofia muscular de Duchenne, que causa degeneração muscular progressiva.

Os dados sobre estoques da Saúde estavam sob sigilo desde 2018 e foram liberados apenas após recomendação da Controladoria-Geral da União (CGU).

Segundo fontes do governo, a maior parte dos produtos foi descartada após o vencimento da validade. Além disso, outros produtos com data de validade vencida podem ainda estar no estoque aguardando descarte.

Além dos medicamentos para doenças raras e de alto custo, o governo federal também incinerou medicamentos destinados a várias formas de mucopolissacaridose , uma condição que pode causar restrições nas articulações, problemas respiratórios e cardíacos, hérnias e outras dificuldades, além de aumentar o risco de morte prematura. O valor total desses produtos descartados foi de cerca de R$ 2,9 milhões .

O Ministério da Saúde respondeu à reportagem da Folha por meio de nota e afirmou que, o desperdício de vacinas, medicamentos e insumos é resultado do descaso do governo anterior. Segundo a pasta, o governo Bolsonaro não compartilhou informações sobre os estoques armazenados antes de sua posse.

O ex-ministro da gestão Bolsonaro, Marcelo Queiroga , afirmou que não possui esses dados, que ficam sob responsabilidade das áreas técnicas.

Luiz Henrique Mandetta , que comandou a pasta na gestão Bolsonaro, de janeiro de 2019 a abril de 2020, disse que durante sua gestão foram feitos esforços para melhorar a gestão dos estoques, transferindo os produtos de armazéns no Rio de Janeiro para uma central em Guarulhos, na Grande São Paulo.

O Ministério da Saúde declarou estar buscando adequar esses estoques e negociar com estados e municípios soluções para evitar novos desperdícios.

LISTA DE MEDICAMENTOS DE ALTO CUSTO PERDIDOS POR MÁ GESTÃO

Translarna

Tratamento: distrofia muscular de Duchenne

Unidades incineradas: 949

Valor: R$ 2,74 milhões

Betagalsidase

Tratamento: doença de Fabr

Unidades incineradas: 259

Valor: R$ 2,46 milhões

Eculizumabe

Tratamento: hemoglobinúria paroxística noturna

Unidades incineradas: 127

Valor: R$ 1,73 milhão

Vimizim

Tratamento: mucopolissacaridose IVA

Unidades incineradas: 632

Valor: R$ 1,61 milhão

Galsulfase

Tratamento: mucopolissacaridose VI

Unidades incineradas: 283

Valor: R$ 1,24 milhão

Alfagalsidase

Tratamento: doença de Fabry

Unidades incineradas: 272

Valor: R$ 1 milhão

Metreleptina

Tratamento: síndrome de Berardinelli-Seip

Unidades incineradas: 47

Valor: R$ 1,1 milhão

Idursulfase

Tratamento: síndrome de Huner

Unidades incineradas: 186

Valor: R$ 985 mil

Nusinersen (Spinraza)

Tratamento: atrofia muscular espinhal (AME)

Unidades incineradas: 2

Valor: R$ 319 mil

Nitisinona

Tratamento: tirosinemia hereditária do tipo 1

Unidades incineradas: 1.200

Valor: R$ 229 mil

Alentuzumabe

Tratamento: esclerose múltipla

Unidades incineradas: 2

Valor: R$ 56 mil

Kanuma

Tratamento: deficiência de lipase ácida

Unidades incineradas: 1

Valor: R$ 23 mil

Total: R$ 13,5 milhões

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