Cruzeiro do Sul, Acre, 10 de novembro de 2025 13:22

Guerra na Ucrânia: um olhar para a Rússia – um urso ferido que se reergueu e surpreendeu o mundo, negativamente

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PARTE I: “Lobo em pele de cordeiro”. 

Sabemos, que desde a Revolução Russa de 1917 e a fundação da União das Repúblicas Socialistas Soviéticas, em 1922, este País, o maior em extensão territorial da Terra (no auge do período soviético chegou a contar com quase 24 milhões de Km² – e, desde 1991, como Federação Russa, possui pouco mais de 17 milhões de Km²) fortaleceu-se colossalmente no campo militar. O trauma russo que os levou a expandirem enormemente o seu poderio bélico se deu após esse imenso País ter sido derrotado pelo “pequeno” Japão, na Guerra Russo-Japonesa (1904/1905), quando ainda viviam sob o cetro do Czar Nicolau II.

Assassinado o Imperador, bem como toda a sua família pelos bolcheviques, liderados por Vladimir Lenin, a nova Rússia soviética foi fundamental para a derrota Nazista durante a Segunda Guerra Mundial e, emergiram como potência global após o conflito. Deu-se início, após 1945, um grande embate ideológico contra o Ocidente. Os delírios apocalípticos chegaram ao auge, notadamente, na década de 1960, quando a Rússia “vermelha” rivalizou com os Estados Unidos – superpotência e líder do bloco capitalista – na corrida armamentista e espacial.

Especialmente, os russos foram capazes de desenvolver uma indústria espacial admirável lançando o primeiro satélite (Sputnik) e o primeiro homem ao espaço (Yuri Gagarin) e construíram mísseis balísticos capazes de cruzar a Terra e atingir a América, além de possuírem grande arsenal de artilharia, tanques e aviões de combates poderosos, aliado a uma marinha temida e um exército formado por milhões de homens. Foi o período da Guerra Fria, onde os dois lados (EUA e URSS) evitaram um confronto nuclear, pois tinham a certeza da destruição mútua. Quem atacasse sem prévio aviso, receberia o contra-ataque e, consequentemente, nossos avós e até nossos pais, poderiam ter vivenciado o terrível “armagedom” e o fim da civilização tal qual a conhecemos.

Passado o auge militar do período soviético, veio a falência completa do enorme Estado, com a fragmentação e desintegração do socialismo no leste Europeu e na Eurásia, em 1991. A Rússia, então, experimentou um período amargo de humilhações no campo econômico e de defasagem tecnológica, sobretudo, na década de 1990. Entretanto, com a chegada de Vladimir Putin ao poder no ano 2000, este, um ex-agente e chefe dos serviços secretos da KGB, colocou em prática um plano para tornar o País uma grande potência mundial novamente e, é claro, restabelecendo o poderio bélico de tal forma que revivessem os velhos tempos da União Soviética.

De forma discreta, em cerca de duas décadas, Putim reergueu o “urso ferido”, recuperando a economia, firmando parcerias estratégicas nas áreas de petróleo e gás, principalmente com a Europa através dos gasodutos, a criação dos BRICs e passou a encantar o Mundo, apresentando uma Rússia moderna, amável e menos agressiva. Até os Jogos Olímpicos de Inverno, a Fórmula 1 e a Copa do Mundo, eventos esportivos de grande envergadura se sucederam em Moscou e Sóchi, reafirmando esse novo momento no século XXI, glorificado pelo esplendor das grandiosas paradas militares em comemoração ao dia da vitória contra os alemães na Segunda Guerra Mundial, na Praça Vermelha. Não pensou duas vezes e trouxe de volta símbolos soviéticos de um passado desbotado na memória das novas gerações e com orgulho voltou a exibir os terríveis e gigantescos mísseis balísticos nos desfiles, em uma demonstração clara do restabelecimento do poder russo perante o mundo.

Um desses artefatos, apelidado de “Satan”, com capacidade de transportar 10 ou mais ogivas nucleares, já está sendo produzido e testado na versão de número de 2 e tem a capacidade de atingir os Estados Unidos em poucos minutos. Tudo estava indo bem, até que, passada a pandemia do novo coronavírus, as patas e garras poderosas do “velho urso” revelaram-se ao mundo, em 2022. A Ucrânia, sua vizinha, uma ex-República soviética, historicamente massacrada pela grande fome na década de 1930 (Holodomor) causada por Josef Stalin, seria a presa perfeita nos dias atuais.

(continua em breve, com a parte II).

 *Narcélio Generoso é Técnico do TJAC, escritor, conselheiro de turismo e colaborador do Jornal Voz do Norte