Com 98,22% das urnas apuradas, o economista e ex-guerrilheiro das Farc teve 11.115.965; analistas explicam que, apesar de ter força no Congresso, terá dificuldades de governar porque precisa da maioria para aprovar seu programa de governo
Gustavo Petro é o novo presidente da Colômbia, colocando a esquerda pela primeira vez no governo do país. O candidato do Pacto Histórico teve 50,49% dos votos, superando o populista de direita Rodolfo Hernández, que recebeu 47,25% dos votos.
Aprofundando um ciclo eleitoral que tem eleito esquerdistas na América Latina, Petro promete profundas mudanças sociais na Colômbia, por décadas governada pela direita. Esta foi a terceira vez que o candidato, que tem 62 anos, concorreu à cadeira presidencial.
Analistas políticos explicam que, apesar de Petro ter conseguido força no Congresso, terá dificuldades de governar porque precisa da maioria para aprovar seu programa de governo. O bloco de centro-esquerda, que engloba o Pacto Histórico, o Partido Comunes (ex-Farc), os grupos indígenas e a Coalizão Centro Esperança, tem 35% das cadeiras. Metade do Congresso está nas mãos da centro-direita tradicional do país.
Nascido em uma família de classe média, de pai conservador e mãe liberal, e educado por padres lassalistas, ele levantou as bandeiras da mudança e da ruptura com as forças que tradicionalmente governam a Colômbia. Seu passado como ex-guerrilheiro ainda deixa muitos colombianos apreensivos.
Petro militou no M-19, uma guerrilha nacionalista de origem urbana que assinou a paz em 1990. Ele conta que se rebelou contra o golpe militar no Chile em 1973 e uma suposta “fraude eleitoral” na Colômbia no mesmo ano contra um partido popular.
Admirador do Prêmio Nobel de Literatura Gabriel García Márquez, na clandestinidade adotou o nome Aureliano, em homenagem ao personagem de Cem Anos de Solidão. Foi detido e torturado pelos militares e ficou preso por um ano e meio. Sempre foi um combatente “medíocre”, de acordo com seus ex-companheiros de armas.
Após assinar a paz, Petro chegou ao Congresso e depois à Prefeitura de Bogotá (2012-2015). Como parlamentar, destacou-se por denunciar os vínculos entre políticos e os paramilitares de extrema direita, mas como prefeito ganhou fama de autoritário e mau administrador por seu plano caótico de estatizar a coleta de lixo, então nas mãos da iniciativa privada.
Em busca dos eleitores de centro e dos indecisos, Petro prometeu austeridade e respeito à propriedade. No Twitter, o candidato elencou garantias sobre temas que foram levantados como temores durante a corrida eleitoral.
Durante todo a campanha do segundo turno, Petro levantou dúvidas sob o processo eleitoral, insinuando que haveria fraude caso não fosse eleito.