Estudo inédito do epidemiologista Jesem Orellana indica que, entre os dias 1 e 20 de janeiro de 2021, os casos de covid-19 duplicaram. Já neste ano, nos primeiros 20 dias, houve um crescimento de 20 vezes de internações por casos graves em decorrência da variante Ômicron
Manaus (AM) – As internações de pacientes em estado grave com Covid-19 aumentaram significativamente nos últimos 20 dias em Manaus. Grande parte das internações é pela nova variante Ômicron que impulsionou uma crescente ocupação de leitos clínicos e de UTI na cidade. Para especialista, Manaus vive o pior momento em termos de internações pelo novo coronavírus.
De acordo com um estudo inédito do epidemiologista Jesem Orellana, pesquisador da Fiocruz-Amazônia, entre os dias 1 e 20 de janeiro de 2022 houve um aumento de 20 vezes de internações por casos graves pela variante Ômicron em Manaus.
O número é alarmante, visto que no mesmo período do ano passado, quando houve a crise nas unidades de saúde na região na capital amazonense, durante os 20 primeiros dias de janeiro de 2021, o número de internados na capital duplicou pela variante Gama.
“O número de internados em UTI também explodiu e o de mortes por Covid-19 começou a aumentar. Como fica a exaustão física e mental dos trabalhadores de saúde, o desperdício de recursos do combalido Sistema Único de Saúde (SUS), a dor/sofrimento difuso dos doentes e a Covid longa?”, diz o epidemiologista.

O pesquisador também se refere ao momento atual da pandemia em Manaus como um “terceiro show de horrores”, isso porque, segundo Orellana, ainda não foi visto em nenhum canto do planeta e com tanta clareza a explosão abrupta de casos graves por Covid como na capital do Amazonas.
“Basicamente porque ainda temos dezenas de milhares de pessoas sem a primeira dose ou com esquema incompleto e, sobretudo, devido a mortal combinação da negligência sanitária de autoridades e parte da população, infelizmente. Manaus, apenas ratifica o triste rótulo de “capital mundial da Covid-19”, pois aqui tudo que é ruim pode piorar. Foi assim em 2020, em 2021 e tudo se repete em 2022”, explica.
Além disso, em relação a questão da disseminação, é muito provável que o cenário atual seja o pior momento epidêmico de Manaus na pandemia, conforme o epidemiologista.
“A parte ambulatorial e de atendimentos de menor complexidade, casos suspeitos ou assintomáticos/leves, saturou há dias e está tudo muito difícil. Já em termos de casos graves que geram hospitalizações, os números só aumentam e as mortes estão ensaiando voo, infelizmente. Em Manaus, tudo pode acontecer e 2020 e 2021 são a prova de ouro”, diz Jesem Orellana.
Crianças
De acordo com os dados divulgados até esta quinta-feira (21) pela Fundação de Vigilância e Saúde (FVS-AM), cerca de 53 crianças menores de 12 anos estão internadas por Covid-19. Para o epidemiologista Jesem Orellana, a situação é preocupante e deve quebrar o recorde de internações anteriores.
As internações de crianças devem aumentar porque elas ainda não tomaram a primeira e a segunda dose de vacina contra a Covid. Orellana também explica que esse crescimento ocorre em razão das más decisões do governo federal como pela lentidão em autorizar, adquirir e distribuir as vacinas.
“Diferente do conjunto de indivíduos com mais de 11 anos, não tiveram e nem terão a possibilidade de enfrentar o auge das infecções, com a proteção completa conferida pelas vacinas (14 dias depois da segunda dose), especialmente para casos graves e mortes por Covid-19”, diz Orellana.