Cruzeiro do Sul, Acre, 30 de abril de 2025 08:18

Manifestação na Paulista tem ataque ao STF, defesa da anistia e gritos de ‘volta, Bolsonaro’

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Manifestação de aliados do ex-presidente tenta forçar Congresso a aprovar projeto para liberar da cadeia condenados por envolvimento no 8 de Janeiro

poiadores de Jair Bolsonaro (PL) se reúniram na Avenida Paulista, em São Paulo, neste domingo, 6, para um ato com críticas ao Supremo Tribunal Federal (STF) e em defesa do próprio ex-presidente, réu sob acusação de liderar uma tentativa de golpe de Estado.

Segundo estimativa do Monitor do Debate Público do Meio Digital, da Universidade de São Paulo (USP), 44,9 mil apoiadores foram à Paulista. Em setembro do ano passado o protesto teve público similar, 45 mil pessoas. Já em fevereiro de 2024, foram 185 mil manifestantes.

A manifestação política foi convocada sob o argumento de defender a anistia dos envolvidos nos atos golpistas de 8 de janeiro de 2023, quando as sedes dos Três Poderes foram invadidas e depredadas em Brasília.

Bolsonaro ataca Moraes e repete que poderia ter sido preso em 2022 se não tivesse saído do País

No ato, o ex-presidente Jair Bolsonaro citou as mulheres condenadas com penas elevadas pelo Supremo. E tentou falar em inglês para dizer que a corte estava sentenciando por golpe de Estado até pipoqueiro e vendedor de sorvetes: “Popcorn seller and ice cream sellers”. Bolsonaro voltou a atacar o ministro Alexandre de Moraes, dizendo que ele usa avião da Força Aérea Brasileira para assistir jogo de futebol.

O ex-presidente voltou a dizer, como fizera no ato de Copacabana, que se não tivesse saído do País em dezembro de 2022 teria sido preso. “O golpe deles só não foi perfeito porque no dia 30 de dezembro teria sido preso no Brasil e estaria apodrecendo na cadeia ou quem sabe assassinado por essas pessoas que botaram esse vagabundo na presidência”, afirmou Bolsonaro.

‘Estou no caminho deles e se acham que vou desistir, fugir, estão enganados’, diz Bolsonaro

Capa do video - 'Estou no caminho deles e se acham que vou desistir, fugir, estão enganados', diz Bolsonaro

Ex-presidente Jair Bolsonaro volta a dizer que é perseguido pelo STF e que seus adversários querem vê-lo morto

O ex-presidente disse ainda que não é igual aos petistas e que não rouba o governo. Citou que o inquérito sobre as vacinas foi arquivado. “Eu estou no caminho deles. Se acham que vou desistir, fugir, estão enganados. Fiz juramento e cumpro: defender minha pátria com sacrifício da própria vida. O que os canalhas querem é me matar”, disse.

Disse ainda que eleição em 2026 sem seu nome como candidato é negar a democracia. Bolsonaro citou também decisões judiciais que tentaram barrar políticos em outras nações. Antes de discursar e em vários momentos do ato os manifestantes gritavam palavras de ordem como “volta Bolsonaro”.

Ato na Paulista tem batom inflável e gritos por anistia aos condenados pelo 8/1

Capa do video - Ato na Paulista tem batom inflável e gritos por anistia aos condenados pelo 8/1

Manifestação faz referência a cabeleireira Débora Rodrigues a quem o ministro Moraes propôs pena de 14 anos de prisão

A movimentação na Paulista é marcada por referências à cabeleireira Débora Rodrigues dos Santos, que pichou “perdeu, mané” na estátua que simboliza a Justiça, em frente ao STF, com batom. O ministro Alexandre de Moraes, da Suprema Corte, propôs uma pena de 14 anos de prisão para ela, que foi para prisão domiciliar e responde ao processo em liberdade desde o mês passado.

Michelle Bolsonaro levanta batom e faz homenagem a mulher que pichou ‘perdeu mané’

Ao discursar, a primeira-dama Michelle Bolsonaro chamou religiosos ao carro de som para dizer que todos ali defendem a anistia. Ela pegou um batom para lembrar a cabeleireira e dizer que ela é o “símbolo da luta pelo Brasil”. Michelle ainda disse que ministros do Supremo têm agido com injustiça ao definir as penas e pediu ao ministro Luiz Fux que não deixe “mães” na cadeia. Fux já declarou no STF que as penas impostas poderiam ser revistas.

Michelle também pregou que a população deve saber escolher seus candidatos em 2026. “Teremos dias melhores no Brasil”, disse. Ela ainda colocou três dos filhos ao lado do marido Bolsonaro: Flávio, Carlos e Jair Renan e lembrou que outro filho, o deputado Eduardo está fora do País.

Manifestação na Paulista pelo projeto da anistia
Manifestação na Paulista pelo projeto da anistia  Foto: Tiago Queiroz/Estadão

Bolsonaro foi acompanhado de sete governadores aliados: Tarcísio de Freitas (Republicanos-SP), Jorginho Melo (PL-SC), Romeu Zema (Novo-MG), Wilson Lima (União-AM), Mauro Mendes (União-MT), Ratinho Júnior (PSD-PR), Ronaldo Caiado (União-GO). A vice-governadora do Distrito Federal, Celina Leão (PP), e o prefeito de São Paulo, Ricardo Nunes (MDB), também comparecem.

Tarcísio diz que prisão é para assaltante, ladrão de celular, invasor de terra e corrupto

No discurso, Tarcísio de Freitas disse que se ovo, a carne e outros alimentos estão caros é porque Bolsonaro precisa voltar. Citou ainda outros episódios da história do País em que houve concessão de anistia e que o instituto pode ser recuperado agora. “Eu quero prisão sim é para assaltante, para quem rouba celular, para quem invade terra e para corrupto”, disse o governador.

Tarcísio defende anistia e diz que prisão é para assaltante, ladrão de celular, invasor de terra

Capa do video - Tarcísio defende anistia e diz que prisão é para assaltante, ladrão de celular, invasor de terra
Governador de São Paulo discursa em manifestação na Paulista em defesa da anistia aos acusados no 8/1

Pouco antes do ato se iniciar, houve um princípio de confusão no momento em que tocava o Hino Nacional. Alguns segurança barraram pessoas que tentaram subir no carro de som logo depois da entrada do governador Tarcísio de Freitas. Depois de empurra-empurra a situação se acalmou.

Imagem aérea feita às 14h07, na Avenida Paulista, onde ocorre uma manifestação em defesa do ex-presidente Jair Bolsonaro e contra o STF por sentenças aplicadas a condenados pelo 8 de Janeiro
Imagem aérea feita às 14h07, na Avenida Paulista, onde ocorre uma manifestação em defesa do ex-presidente Jair Bolsonaro e contra o STF por sentenças aplicadas a condenados pelo 8 de Janeiro Foto: Flavio Florido/Estadão

Governadores de oposição defendem anistia

Ao chegar para ao protesto, Ronaldo Caiado afirmou que os atos do 8 de Janeiro são indefensáveis, mas que as penas são pesadas demais. “O sentimento é nacional, de promover anistia a essas pessoas que praticaram, sim, aquela prática indefensável no dia 8 de Janeiro, mas que não merecem também a pena na proporção que está sendo dada. É isso que estamos buscando: justiça, mas sem ser uma ação do Estado que venha punir como se fosse um gesto de vingança”, disse.

Caiado diz que 8/1 é ato ‘indefensável’, mas penas do STF são muito pesadasCapa do video - Caiado diz que 8/1 é ato 'indefensável', mas penas do STF são muito pesadas

Governador de Goiás é um dos sete governadores presentes a ato na Paulista pela anistia de envolvidos nos atos extremistas de 8 de Janeiro

Silas Malafaia ataca presidente da Câmara por falta de votação do projeto de anistia

O Pastor Silas Malafaia, um dos organizadores do ato, voltou a criticar a atuação do STF e mirou no presidente da Câmara, Hugo Motta (Republicanos-PB). Para Malafaia, Motta é culpado pelo fato de o projeto de anistia ainda não ter sido votado na casa Legislativa. “Você Hugo Motta está envergonhando o honrado povo da Paraíba”, disse o pastor.

Segundo ele, o presidente da Câmara atuou para impedir que líderes de partido assinassem o requerimento de urgência para acelerar a tramitação do projeto.

O pastor voltou a chamar o ministro Alexandre Moraes de ditador e disse que generais do Exército são covardes e orou para que “Deus não permita que esses homens maus prevaleçam”.

Uma pesquisa feita Genial/Quaest e divulgada pela neste domingo mostra que a maioria dos brasileiros é contra a soltura dos condenados pelos atos de 8 de Janeiro. Segundo o levantamento, 56% dos entrevistados disseram preferir que os envolvidos continuem presos, contra 34% que defendem sua soltura.

Apesar da indicação da sondagem, o governador do Paraná afirmou que a manifestação é por uma causa em nome da população brasileira.

“O evento é uma causa, em nome da população brasileira, por entender que o que está acontecendo com as pessoas que estão presas é uma punição muito além de qualquer crime que eles possam vir a ter cometido. E, acima de tudo, mostrar que existe hoje uma inversão de valores, onde a Justiça muitas vezes faz uma perseguição política em vez de ter uma posição justa”, disse Ratinho Junior.

Ratinho Junior diz que Judicário faz ‘perseguição política’ e defende anistia

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Capa do video - Ratinho Junior diz que Judicário faz 'perseguição política' e defende anistia

Governador do Paraná afirma que penas impostas aos acusados do 8/1 são desproporcionais

Em discurso de cima do caminhão, o deputado Nikolas Ferreira (PL-MG) foi o primeiro a subir o tom. Ele chamou Alexandre Moraes de covarde e disse que a manifestação é uma resposta à tentativa de “ditadores” amedrontarem o ex-presidente e aliados.

“Temos que ir para a rua para poder dizer o óbvio, de que altas penas é para criminosos e não para baderneiros. Ditadores de toga, principalmente Alexandre de Moraes, se utilizaram do dia 8 para nos amedrontar. Se lascou, olha a gente aqui. Essa é a resposta para você, seu covarde. Fizeram de tudo para massacrar a maior liderança política desse país, Bolsonaro. Digo novamente: se lascou!”, disse.

Líder do PL diz que esta semana conseguirá apoio para requerimento de urgência para anistia

O líder do PL na Câmara dos Deputados, Sóstenes Cavalcante (RJ) afirmou durante o ato bolsonarista que a legenda espera ter, até a quarta-feira, 9, as assinaturas necessárias para pautar o regime de urgência do projeto de lei da anistia dos condenados pelo 8 de Janeiro.

“Com a ajuda (dos governadores) Ronaldo Caiado (União Brasil), Romeu Zema (Novo), Tarcísio de Freitas (Republicanos) e Wilson Lima (União Brasil) esperamos ter as 257 assinaturas necessárias. Aí, será pautado querendo ou não”, bradou Sóstenes, que discursou de cima do trio elétrico, de onde autoridades bolsonaristas discursam durante o ato.

A legenda alega, há semanas, que já tem as assinaturas necessárias para acelerar a tramitação do projeto de lei da anistia, considerado o “problema 01″ do PL. O partido, inclusive, entrou em obstrução para tentar pressionar pela urgência – uma estratégia que é considerada por governistas como “esvaziada”.

Durante a semana, Sóstenes disse que mudou de estratégia para pautar o projeto – está indo atrás de rubricas individuais para levar o tema ao plenário sem necessidade de um acordo no colégio de líderes.

Neste domingo, 6, o líder sustentou que o PL vai publicar, nesta segunda, uma lista dos 162 deputados que já assinaram o requerimento, assim como os nomes dos parlamentares que estão “indecisos”.

O líder do PL ainda ironizou o ato contra a anistia realizado pela esquerda dias atrás, também na Avenida Paulista, indicando que os opositores colocaram “meia dúzia nas ruas contra algo que é justiça para os injustiçados”.

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“Damos o recado que a direita está mais unida do que nunca. Bolsonaro reúne governadores para dizer: ‘2026 Bolsonaro de volta’”, afirmou Sóstenes.

De acordo o Placar da Anistia do Estadão, levantamento exclusivo para identificar como cada um dos deputados se posiciona sobre o tema, mais de um terço dos 513 parlamentares da Câmara dos Deputados apoia a anistia aos presos do 8 de Janeiro. Já são 197 votos a favor da anistia, segundo o levantamento, faltando 60 votos para atingir a maioria absoluta da Câmara.

Colaboraram Aramis Merki II e Pepita Ortega