Ídolo histórico do Corinthians e da seleção colombiana, o ex-meio-campista Freddy Rincón morreu hoje em decorrência dos ferimentos sofridos em um acidente de carro na madrugada da última segunda-feira (11). Aos 55 anos, ele estava internado desde a manhã do mesmo dia devido a um traumatismo craniano, chegou a ser operado, mas não resistiu à gravidade dos ferimentos.
A morte do ex-jogador foi confirmada na madrugada desta quinta-feira do Brasil (noite de quarta na Colômbia) pelo médico Laureano Quintero, chefe da equipe do Hospital Clínica Imbanaco onde estava internado. “Apesar de todos os esforços de nossa equipe de trabalho, Freddy Rincón Valencia morreu. Queremos expressar nossos sinceros sentimentos de condolências a seus familiares, amigos e seguidores”, disse Quintero.
Rincón foi um dos grandes personagens do futebol brasileiro nos anos 90 e 2000. Ele foi campeão paulista pelo Palmeiras em 1994 e anos depois se tornou um dos maiores ídolos do Corinthians, pelo qual foi bicampeão brasileiro (1998 e 99) e campeão mundial como capitão, em 2000, no primeiro grande título internacional do clube.
O colombiano ainda defendeu Santos e Cruzeiro no futebol brasileiro. Freddy Eusébio Gustavo Rincón Valencia nasceu em 1966 em Buenaventura, a maior cidade portuária da Colômbia. Foi no time local que ele se destacou aos 19 anos, antes de passar por Tolima, Independiente Santa Fe e América de Cali, chegar à seleção colombiana e ir jogar no exterior. Além dos c
“Quando cheguei ao América, me desmotivaram. Me baixaram o salário pela metade do que eu ganhava no Santa Fe. Isso para mim foi uma humilhação muito grande que me fez passar o dono do clube.”.
Chegou ao Brasil pelo Palmeiras
Imagem: Reprodução
Rincón passou à história como ídolo do Corinthians, mas entrou no futebol brasileiro pelo fortíssimo Palmeiras montado pela Parmalat. Foi apresentado em janeiro de 1994, chegou a ser acusado de falta de compromisso, mas foi campeão paulista em um time que o próprio ex-volante afirmou ter sido o melhor em que jogou no Brasil. Naquele ano, foi para sua segunda Copa do Mundo, já como um dos pilares da melhor seleção colombiana da história, de Valderrama, Valencia, Asprilla e cia., que fez 5 a 0 na Argentina em Buenos Aires e foi cotada para o título da Copa —que, no entanto, acabou em decepção. Durante o Mundial, o colombiano deu en.
Racismo e frustração na Europa
Rincón foi ao futebol italiano praticamente como contrapeso de uma negociação entre o Napoli e o Parma, cujo presidente era o mesmo que injetava dinheiro no Palmeiras. Inicialmente foi escalado como centroavante, mas só mostrou seu melhor futebol quando realocado no meio-campo, seu setor de origem, e terminou a temporada 1994-95 como vice-artilheiro do Napoli.
Não foi um desempenho tão regular, mas a técnica e a imposição física de Rincón despertaram o interesse do Real Madrid. O meio-campista foi contratado a pedido do técnico Jorge Valdano, que, no entanto, logo acabou demitido. A troca no comando fez Rincón perder espaço em um vestiário “de ego, orgulho e ciúmes”, como descreveu depois. O colombiano revelou ainda ter sido vítima de racismo de torcedores do clube.
Idolatria no Corinthians e brigas com companheiros
Imagem: Shaun Botterill /Allsport
Rincón foi emprestado para sua segunda passagem no Palmeiras em 1996, desta vez sem muito destaque ou título. No ano seguinte, foi vendido pelo Real ao Corinthians, que “atravessou” o Santos na negociação para torná-lo uma das rochas do elenco que seria bicampeão brasileiro e campeão mundial em 2000. O colombiano compôs com Vampeta, Ricardinho e Marcelinho Carioca um meio-campo muito lembrado pelos corintianos, ainda que o vestiário fosse um caldeirão.
A história clássica é de uma briga em que Rincón levantou Marcelinho do chão, e há ainda outra, em que Edílson teria puxado uma faca para o colombiano dentro do vestiário. Passados os anos, não era raro Rincón brincar que “carregava todos eles nas costas”, por ser o que mais marcava em um time bastante ofensivo no Corinthians. No total, foram 158 partidas e 11 gols de Rincón pelo clube.
“Foi um orgulho muito grande ter levantado a taça do Mundial de Clubes da Fifa pelo Corinthians. Foi logo uma semana depois de ter vencido o Brasileiro [de 1999] contra o Atlético-MG, que tinha um timaço e nos deu muito trabalho.”Freddy Rincón.
Rescisão, ida ao Santos, Cruzeiro e aposentadoria
Rincón ainda voltaria ao Corinthians em 2004, já aos 37 anos, para o ocaso de sua carreira. Aposentado, se aventurou como treinador de equipes menores (Iraty, São Bento, São José e Flamengo-SP), ainda comandou o time sub-20 do Corinthians e foi auxiliar de Vanderlei Luxemburgo no Atlético-MG. Seu último trabalho no futebol foi em 2012, quando voltou da aposentadoria aos 46 anos para ajudar o América de Cali na segunda divisão colombiana —não deu certo, e o time só subiu quatro anos depois. Investigado e procurado pela Interp.
Investigado e procurado pela Interpol
Já aposentado, Rincón se aventurou como treinador e auxiliar entre 2006 e 2011, mesma época em que foi preso no Brasil após ter sua prisão decretada pela Justiça do Panamá. As acusações eram de lavagem de dinheiro e ligação com o tráfico de drogas, pois ele tinha relação próxima com o traficante Pablo Rayo Montaño, integrante do cartel de Cali e preso no ano anterior. Nascidos na mesma cidade, os dois tinham negócios em uma empresa de pesca que, segundo a Justiça panamenha, era usada para lavar dinheiro do tráfico.
Após quatro meses detido no prédio da Polícia Federal, Rincón passou a responder em liberdade e voltou a viver normalmente no Brasil. Ele ainda teve seu nome incluído na lista de procurados da Interpol em 2015, mas finalmente foi inocentado naquele mesmo ano após prestar depoimento no Panamá. “O Brasil tratou o caso como a Colômbia deveria ter tratado: o Brasil pediu três vezes as provas ao Panamá a respeito disso; o Panamá nunca as apresentou, e o Brasil arquivou o caso. Vou vivendo tranquilo no Brasil, vivendo como qualquer cidadão pode viver.