Boletim de ocorrência aponta que ex-atleta caiu do 17.º andar de condomínio; treinadores lamentam perda de ‘referência’
“A gente fica sem chão para saber e entender as coisas. Abalou todo mundo. Ela tinha tudo de bom que uma jogadora e uma atleta, uma pessoa, pode ter” Zé Roberto, treinador
“Uma menina que eu vi se transformar em uma mulher incrível. Dentro de quadra, uma guerreira, amiga… Uma aspirante que se tornou uma campeã” Bernardinho, treinador
Campeã olímpica em Pequim-2008 com a seleção brasileira de vôlei, a central Walewska morreu na noite de quinta-feira, em São Paulo. A Polícia Civil investiga circunstâncias da morte. A jogadora tinha 43 anos e estava aposentada desde o fim da temporada de 2021/2022, quando defendeu o Praia Clube, de Uberlândia. O velório será hoje, às 6h, no Bosque da Esperança, em Belo Horizonte. O enterro está programado para às 10h e será acompanhado somente por familiares e amigos.
Boletim de ocorrência obtido pelo Estadão indica que ela caiu do 17.º andar do condomínio Ciragan Home, na Bela Vista, capital – a hipótese de suicídio é investigada. O documento foi registrado no 78.º Distrito Policial, nos Jardins, zona oeste, e aponta que a ocorrência se deu às 18h09 de quinta e foi comunicada às 20h19. Ricardo Alexandre Mendes, marido de Walewska, e duas testemunhas, deram depoimento.
Segundo o boletim, Walewska caiu em cima da sacada de um apartamento do primeiro andar. Uma unidade de resgate tentou reanimar a atleta, mas a morte foi constatada no próprio local. Ela estava na
área de lazer, que fica no 17.º andar do condomínio. O local é de uso exclusivo dos moradores e seu acesso se dá por meio da biometria facial. O sistema de monitoramento gravou Walewska entrando no condomínio, sozinha, às 16h50.
De acordo com o boletim de ocorrência, o marido da jogadora não estava no local no momento do incidente e foi informado do fato por mensagens instantâneas no grupo do próprio condomínio.
Mendes disse à polícia que chegou ao apartamento às 17h30 e declarou não saber que sua mulher estava no prédio. A gestora do condomínio informou ao marido da atleta sobre a morte. Ele teria ficado muito chocado e permanecido “imóvel para não ter de ver sua mulher naquela situação”.
REPERCUSSÃO.
Dois dos principais técnicos do vôlei nacional, José Roberto Guimarães e Bernardinho, disseram estar chocados com a morte de Walewska. Zé Roberto, que treinou a jogadora no Campinas e também na seleção, disse ter ficado “sem chão” com a notícia da morte.
“A gente fica sem chão para saber e entender as coisas. Mas é difícil falar sobre isso. Abalou todo mundo”, afirmou o treinador à TV Globo após a derrota da seleção brasileira feminina por 3 a 0 para a Turquia no PréOlímpico, em Tóquio, Japão.
Bernardinho, que também foi técnico da seleção feminina, disse não acreditar na morte da atleta. Foi ele quem a convocou pela primeira vez para a equipe brasileira, quando a central tinha apenas 19 anos. “Uma menina que eu vi se transformar em uma mulher incrível. Uma pessoa com uma energia lá em cima, dentro de quadra, uma guerreira, amiga… Sempre demonstrou um carinho enorme com todos, aquele abraço que acolhia a todos. Uma aspirante que se tornou uma campeã”, comentou.
Dias antes de morrer, Walewska visitou o centro de treinamento do Palmeiras e conheceu Abel Ferreira, com o qual trocou livros e experiências. O treinador disse ter sido uma “honra extraordinária” conhecer a atleta, eleita melhor levantadora do mundo em 2008, e, como todos, recebeu com incredulidade a notícia da morte da jogadora. “Fiquei incrédulo. Tu pensas realmente qual é o verdadeiro significado da vida. O que estou aqui a fazer? Qual é a minha missão enquanto homem? Qual é a minha missão enquanto treinador?”
PODCAST.
Um dia antes de sua morte, Walewska traçava planos para sua carreira fora das quadras e para o futuro. Em entrevista ao podcast Ataque Defesa, do jornalista Alê Oliveira, ela destacou os feitos e conquistas ao longo de seus 43 anos (completaria 44 dia 1.º de outubro). O apresentador afirmou que foi a “entrevista mais elegante que ele já fez” e diz ter sido “escolhido para ter este momento’’. Segundo Alê Oliveira, a atleta se mostrava feliz e satisfeita com sua carreira. Além disso, planejava seu futuro na profissão de influenciadora digital. “Tentando rever os momentos e as conversas com ela no podcast, acho que fui escolhido para ter esse momento. Para ser a pessoa deste momento”, afirmou o jornalista ao Estadão.
“Não consigo colocar em palavras a razão disso, mas pode ser por conhecê-la já há muitos anos, ter feito a cobertura de quase todo o período dela na seleção brasileira e ser amigo próximo. Pode ser por isso, por ela se sentir mais à vontade. Não sei. Mas é isso que eu penso tentando reviver tudo que passou”, disse Alê Oliveira.