Cruzeiro do Sul, Acre, 4 de outubro de 2024 00:48

Projetos urbanísticos precisam voltar o olhar para as crianças

marcelus

São cada vez mais raras, nas grandes cidades, as cenas das crianças brincando nas ruas, nas calçadas, subindo em árvores, andando de bicicleta e correndo em parques ou praças. As explicações são as mais variadas. Podemos dizer que os tempos mudaram e os novos hábitos estão mais para os jogos eletrônicos; que os espaços públicos nem sempre são ambientes seguros onde possam brincar tranquilamente; e que os pais estão cada vez mais atarefados, sem tempo para acompanhá-las nas atividades ao ar livre.

É claro que tudo isso pode influenciar, mas é preciso admitir que, hoje, há escassez de áreas verdes e de projetos urbanísticos que levem em conta o olhar das crianças e as necessidades de espaço que possuem. São poucos os bairros que contemplam um aparato com essa finalidade e que atraiam os pequenos para se divertir em grupo, com os vizinhos, amigos e familiares.

A preocupação com os espaços públicos e a forma de ocupação pela população dizem muito das cidades e da qualidade de vida que proporcionam aos seus habitantes. Além disso, estimulam hábitos desde a infância que serão fundamentais para a vida adulta, no desenvolvimento sadio, na visão de mundo e até na assimilação do conceito de sustentabilidade.

É importante dar às crianças opções de lazer e em espaços com áreas verdes, parques, ciclovias, calçadas. Promover atividades que estimulem a separação dos resíduos para reciclagem, por exemplo, a compreensão da sinalização, do respeito ao pedestre e do convívio em harmonia com a vizinhança. Além disso, garantir acesso fácil e seguro ao transporte coletivo nas imediações, e oferecer atividades lúdicas, para o desenvolvimento da criatividade infantil.

Esses elementos todos não são fáceis de incluir nos projetos urbanísticos, mas são necessários, um resgate importante, antes que a única alternativa de entretenimento seja mesmo colocar as crianças na frente das TVs e dos celulares.

Um exemplo interessante, que contempla essa preocupação com a ampliação dos espaços públicos para uso das crianças e das famílias, está sendo desenvolvido no Amazonas, com a implantação do Programa Social e Ambiental de Manaus e Interior (Prosamin+).

Programa realizado pela Unidade Gestora de Projetos Especiais (UGPE) do Governo do Amazonas, em parceria com o Banco Interamericano de Desenvolvimento (BID), o Prosamin+ compreende uma área de 445.596,31 m², passando pelas zonas sul e leste de Manaus. As obras já iniciaram.

O programa reserva 39% dessa área para reflorestamento e para paisagismo, ampliando os espaços verdes da cidade. Prevê, também, ciclovias, passeios e calçadões, reestruturação viária nas áreas de abrangência, construção de conjuntos habitacionais, implantação de dois parques e sete praças. O projeto urbanístico delimita os espaços para transeuntes e para veículos motorizados.

Com o traçado desenvolvido, foi possível implantar uma diversidade de equipamentos e mobiliários urbanos, que permitirão uma variedade de atividades ao ar livre, de esporte, lazer e bem-estar. Dentre eles, estão contempladas a construção de quadras poliesportivas, academia de ginástica ao ar livre, anfiteatro com arquibancada, espaços para artes itinerantes e murais para exploração do grafite.

O projeto também inclui uma praça de alimentação com quiosques e um espaço destinado à montagem temporária de barracas ou carrinhos e diversos brinquedos de usos infantil e infanto-juvenil. Os playgrounds, com área total de 1.495 m², estarão subdivididos em toda a extensão do Prosamin+, com mesas de piquenique, de jogos (da velha, trilhas, xadrez) e de ping pong, gangorras, dinotunel, balanços, escorregadores e área para amarelinha em piso emborrachado. As áreas marginais ao Igarapé do 40, por onde passa, serão dotadas de um circuito de ciclovia de 4.556,40 m², contendo ampla rede de passeios livres de obstáculos, atento aos preceitos de acessibilidade universal.

O projeto urbanístico do Prosamin+ prioriza o bem-estar e a qualidade de vida dos moradores do entorno. As crianças e adolescentes ganham espaço adequado para se desenvolverem de forma saudável, com opções de divertimento e lazer ao ar livre.

*Marcellus Campêlo é engenheiro civil, especialista em saneamento básico; exerce, atualmente, o cargo de coordenador executivo da Unidade Gestora de Projetos Especiais (UGPE), órgão que gerencia as obras do Programa Social e Ambiental dos Igarapés de Manaus e Interior (Prosamin).