Com níveis altíssimos de partículas, uso de máscara é recomendado assim como o aumento dos cuidados de pessoas com problemas respiratórios
Pelo terceiro dia consecutivo Manaus amanheceu coberta por intensa fumaça na sexta-feira (13). Entretanto, há pelo menos 20 dias que a capital amazonense vem sofrendo com “neblinas’ de fumaça carregadas de micropartículas de poluição que vão de níveis “suportáveis” até extremamente “perigosos” para a respiração humana.
A fumaça que vem das queimadas é um problema sério que afeta a saúde da população de todo o Amazonas. Em meio ao cenário onde os incêndios florestais têm contribuído para a piora da qualidade do ar na região metropolitana de Manaus, a Associação Amazonense de Pneumologia e Cirurgia Torácica emitiu uma nota técnica descrevendo a gravidade que os efeitos da exposição à fumaça de queimadas podem impactar na saúde da população.
“O tamanho das partículas de poluentes é variável, mas cerca de 90% da massa de partículas emitidas por incêndios florestais consiste em partículas finas, com tamanho menor que 2,5 µm de diâmetro, que denominamos como PM2,5 e que por seu pequeno tamanho chega mais facilmente em pequenas vias aéreas ao serem inaladas”, descreve a nota técnica.

Fumaça oriunda de queimadas florestais encobrem a ponte sobre o Rio Negro (Foto: Márcio Silva)
Medidas necessárias
Em decorrência da fumaça que voltou a encobrir a capital amazonense, o prefeito de Manaus, David Almeida, anunciou mais medidas para garantir a segurança da população, e o reforço nas ações já realizadas pela prefeitura, incluindo o adiamento da Maratona Internacional, que iria ocorrer no dia 15/10, e as comemorações do aniversário com o Boi Manaus, ambos remarcados para dezembro.
O secretário de estado de Saúde, Anoar Samad, alerta sobre a importância de redobrar a atenção principalmente com idosos, crianças e portadores de doenças crônicas.
Para aqueles que precisam sair para áreas abertas, o uso de máscaras tipo N95/PFF2 ou P100 pode oferecer proteção adequada, principalmente para pessoas com fatores de riscos e doenças crônicas.

Pessoas, no Centro de Manaus, utilizam máscaras para evitar possíveis problemas respiratórios causas pela inalação de fumaça (Foto: Junio Matos)
Além disso, a adoção do uso de purificadores de ar com filtros Hepa e umidificadores podem ajudar a reduzir as partículas no ambiente interno. Eles também podem ser utilizados para o alívio dos sintomas de irritação em olhos, nariz e garganta.
Grupos de risco
O médico infectologista Nelson Barbosa, que atua no Hospital Pronto-Socorro (HPS) 28 de Agosto, ressalta que é preciso ter uma atenção redobrada aos grupos de maior risco, como crianças, idosos e pessoas que já possuem doenças cardiorrespiratórias.
Barbosa explicou ainda que as pessoas que estão fora do grupo de risco também devem se atentar aos sintomas causados pela inalação constante do ar poluído.
“Temos que ficar alertas para os dois grupos de pessoas. Aquelas pessoas que não tem nenhuma comorbidade, nenhuma doença associada, vão responder com sintomas mais leves a moderados. Entre eles: irritação dos olhos da mucosa nasal, irritação da orofaringe, apresentar uma tosse seca e irritativa. Aquela tosse que não tem secreção”, descreveu o infectologista.
Atendimentos
A Secretaria Municipal de Saúde (Semsa) de Manaus apontou que no mês passado foram registrados 1.819 atendimentos de síndromes gripais nas unidades básicas de saúde de Manaus, sendo a maioria (208) crianças de 5 a 9 anos. Este índice é menor do que foi registrado em agosto, quando foram realizados 2.410 atendimentos.
Ainda conforme a Semsa, agosto foi o mês em que mais se registrou atendimentos de casos envolvendo síndromes gripais.
Questionada se há a possibilidade de um risco epidemiológico na capital amazonense devido a contaminação de fumaça, a Semsa descartou qualquer risco evidente.
Efeitos da fumaça
A preocupação dos efeitos da fumaça causados na população também foram pontuados pelo diretor do Departamento de Emergências em Saúde Pública do Ministério da Saúde, Marcio Henrique de Oliveira Garcia, durante a coletiva do governo federal realizada nesta sexta (13) quando a ministra do Meio Ambiente Marina Silva anunciou o reforço de brigadistas para combater as queimadas no Amazonas.
O diretor técnico do Ministério da Saúde orientou a população, se possível, ficar em casa e evitar atividades físicas ao ar livre. Além de reforçar a hidratação do corpo.
“Temos que tentar, não é fácil, mas tentar evitar essa exposição à fumaça, dessa exposição à poluição do ar. Então, para quem pode, realmente, é ficar dentro de casa, é evitar atividades físicas ao ar livre, atividades seja qual for, para quem pode. Ficar dentro de casa, fechar portas, fechar as janelas, manter esse ambiente domiciliar ventilado na medida do possível. Beber muita água ajuda, a limpeza de mãos, de rosto também diminui a contaminação na pele”, alertou o diretor.