Pela primeira vez na história da Colômbia, uma mulher negra chega ao Executivo e vai ser vice-presidente do país. Neste domingo (19), a advogada e ativista ambiental Francia Márquez foi eleita à vice-presidência, com a chapa do senador de esquerda Gustavo Petro, da coalizão Pacto Histórico.
Com 50,49% dos votos, Petro, um economista e ex-combatente da guerrilha M-19, venceu as eleições presidenciais do país e se tornou o primeiro presidente de esquerda da Colômbia. Foram cerca de 22 milhões de votos, segundo informações do órgão de contagem de votos nacional. Ele derrotou o empresário Rodolfo Hernández, que teve 47,25% dos votos.
Francia Márquez é considerada um “ar fresco” na política: a advogada de 40 anos é ativista ambiental e nasceu na comunidade de La Toma, de maioria negra, na cidade de Suárez, em Cauca, um dos estados mais pobres e com maiores índices de violência da Colômbia.
Premiada internacionalmente
Em 2018, Francia ganhou o Prêmio Goldman, conhecido como o “Nobel do Meio Ambiente”, por sua luta ambiental na região. Também foi representante legal do Conselho Comunitário de La Toma, entidade que exige a proteção dos territórios ancestrais negros da Colômbia. No ano seguinte, em 2019, a advogada foi alvo de um atentado com granadas e rajadas de fuzil em represália à sua militância.
Formada pela Universidade Santiago de Cali, Márquez trabalhou na adolescência como garimpeira na mineração de ouro — assim como seus pais. Depois, exerceu o ofício de trabalhadora doméstica para pagar seus estudos e sustentar sua família. Ela é mãe solo e tem dois filhos —teve o primeiro aos 16 anos.
Durante os discursos de campanha, Márquez afirmou que, em caso de vitória, vai trabalhar pelas mulheres, negros, indígenas, camponeses e pela população LGBTQIA+.
Luta contra mineração ilegal
Márquez se tornou uma ativista aos 13 anos, quando começou uma mobilização, com sua comunidade, contra projetos do governo que alterariam o curso do rio Ovejas, um dos maiores e mais importantes da bacia hidrográfica da região.
Em 2014, esteve à frente de um movimento de mulheres que caminharam por dez dias de La Toma até Bogotá para pressionar o governo colombiano a interromper a mineração ilegal na região, que estava causando impactos negativos para a saúde, meio ambiente e comunidades do entorno. A atividade gerou mais de 30 toneladas de mercúrio despejadas nas águas desta região, poluindo uma área de 230 km.
O ativismo contra a mineração ilegal rendeu a Márquez o Prêmio Nacional de Defesa dos Direitos Humanos na Colômbia, em 2015. Três anos depois, ganhou o Prêmio Goldman. Em entrevista ao jornal colombiano “El Tiempo”, na ocasião em que recebeu a homenagem internacional, afirmou que estava convencida em seguir com seu trabalho social.
“Não é um prêmio apenas para a Francia, mas para uma luta de toda a minha vida, para as mulheres que marcharam comigo, para a comunidade, para as pessoas que morreram defendendo a vida.”.
Ameaçada de morte, teve que sair da região em que nasceu
Após ser ameaçada de morte, ela saiu da região em que nasceu. “Tive que me deslocar por enfrentar a mineração ilegal e por dizer a eles que parassem as máquinas. Tive que me esconder nas casas de outras pessoas e depois deixar meu território. Ainda estou em condição de deslocamento forçado e tenho um esquema de proteção com o qual também tive problemas devido a questões como combustível ou conserto de pneus”, relatou, em 2018.
A Colômbia é o país mais perigoso para ativistas ambientais na América Latina e no mundo. Segundo o último relatório da Global Witness, organização inglesa que monitora todos os anos atos de violência contra esses líderes, 65 ativistas foram mortos no país em 2021, número que leva o país à liderança global de casos.
Sofreu ataque promovido por adolescente
Em maio de 2019, Francia Márquez e um grupo de líderes sociais da Associação de Conselhos Comunitários do Norte de Cauca sofreram um atentado em Santander de Quilichao, enquanto se preparavam para uma reunião com o governo. De acordo com Francia, o grupo foi atacado com homens munidos de armas e granadas. Ela não ficou ferida. As investigações atribuíram o ataque a um adolescente de 17 anos.